terça-feira, 6 de dezembro de 2011

NARCISISTIC PERSONALITY DISORDER

PERTURBAÇÃO NARCÍSICA DA PERSONALIDADE
NARCISISTIC PERSONALITY DISORDER
Margarida Baldaque da Silva, Rui Coelho
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Correspondência:
Margarida Baldaque da Silva
Rua dos Vanzeleres, 246 – 2º frente
4100-482 Porto
Contacto telefónico: 934707602
Correio electrónico: mbs@med.up.pt
Contagem de palavras:
Resumo em português: 248 palavras.
Resumo em inglês: 230 palavras.
Texto principal: 4682 palavras.
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Resumo
A Perturbação Narcísica da Personalidade (PNP) é caracterizada essencialmente por um padrão de grandiosidade, necessidade de admiração e ausência de empatia.
Os dados acerca da sua prevalência são bastante variáveis (entre 0% e 7,7% na população geral), mas esta tem vindo a aumentar ao longo dos anos.
Não existe um consenso acerca dos critérios de diagnóstico desta perturbação, estando a ser debatida a incorporação de um modelo dimensional à actual classificação em categorias. Têm também sido identificados subtipos da PNP.
Os seus factores causais parecem ser multidimensionais, resultando esta perturbação da interacção entre determinadas características do temperamento e experiências de socialização desajustadas.
As principais co-morbilidades que apresenta são: abuso de substâncias, depressão endógena, doença bipolar tipo I, perturbações da ansiedade e outras perturbações da personalidade. A PNP também origina sofrimento nas pessoas que se relacionam com o doente e está associada a substanciais custos para a sociedade.
Os doentes com PNP representam um grande desafio no que toca ao tratamento, que combina essencialmente psicoterapia (componente psicodinâmica e componente cognitiva) e farmacoterapia para o tratamento de algumas co-morbilidades.
No futuro, são necessários mais dados empíricos, nomeadamente de estudos longitudinais, para um melhor entendimento acerca da sua etiopatogenia, o que conduzirá a uma actuação mais eficaz tanto ao nível da prevenção, como da abordagem e tratamento destes doentes.
O objectivo desta revisão é constituir uma súmula do que até agora tem sido publicado do ponto de vista teórico, bem como reunir alguns dos dados empíricos mais recentes sobre a PNP.
Palavras-chave: Perturbação Narcísica da Personalidade, Narcísica, Narcisismo.
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Abstract
Narcissistic Personality Disorder (NPD) is mostly characterized by a sense of grandiosity, need for admiration and lack of empathy.
Data concerning its prevalence are highly variable (between 0% and 7,7% in the general population), but it has been increasing over the years.
There is no consensus about the diagnostic criteria of this disorder, and a number of authors have proposed the replacement of the current categorization model with a dimensional model. There have also been identified subtypes of NPD.
Its causes appear to be multidimensional, resulting this disorder from the interaction between certain temperament characteristics and maladaptative socializing experiences.
The main co-morbidities that NPD shows are: substance abuse, endogenous depression, bipolar disorder type I, anxiety disorders and other personality disorders. The NPD also causes pain in people who are related to the patient and is associated to substantial costs to society. Patients with NPD represent a major challenge regarding the treatment, which mainly combines psychotherapy (psychodynamic component and cognitive component) and pharmacotherapy for the treatment of certain co-morbidities.
In the future, further empirical data are needed, namely longitudinal studies, for a better understanding of its pathogenesis, leading to a most effectively action, both in terms of prevention, as the approach and treatment of these patients.
The purpose of this review was to provide a summary of what has been published so far about the NPD, both theoretical and empirical data.
Keywords: Narcissistic Personality Disorder, Narcissistic, Narcissism.
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Introdução
Uma personalidade multifacetada permite ao indivíduo a selecção da estratégia que melhor se adapta a cada contexto e situação que vive. Por definição, as pessoas com Perturbação da Personalidade (PP) têm um número limitado dessas mesmas facetas e são inflexíveis, sendo as suas relações estereotipadas e desadaptadas (as pessoas que vão conhecendo e os problemas com que se deparam estão constantemente a mudar, mas o seu comportamento mantém sempre o mesmo padrão), o que origina sofrimento e/ou incapacidade (1).
Em psiquiatria, o termo narcisismo foi utilizado pela primeira vez em 1910 por Freud, que o adoptou a partir do mito grego. Actualmente, é utilizado com os mais variados significados e implicações, desde a linguagem coloquial, referindo-se a pessoas egocêntricas (muitas vezes com uma conotação pejorativa), à linguagem científica, referindo-se a um dos vários tipos de PP – a Perturbação Narcísica da Personalidade (PNP). Reconhecida como uma perturbação mental, em 1980, na 3ª Edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-III), é caracterizada essencialmente por um padrão de grandiosidade, necessidade de admiração e ausência de empatia (2).
O objectivo desta revisão é constituir uma súmula do que até agora tem sido publicado do ponto de vista teórico, bem como reunir alguns dos dados empíricos mais recentes sobre a PNP.
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Métodos
Este trabalho de revisão foi elaborado a partir da consulta de bibliografia, assim como da recolha de artigos científicos pesquisados na base de dados PubMed da MEDLINE que abordavam o tema Perturbação Narcísica da Personalidade. Nos casos em que não foi possível ter acesso ao artigo completo, foram utilizadas informações constantes em artigos que o citassem (facto referido ao longo do texto como cf. - confira). Foram utilizados os seguintes termos MeSH: [Narcissistic Personality Disorder], [Narcissistic] e [Narcissism]. Não foram aplicados limites temporais.
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Prevalência
A maioria dos estudos feitos até agora sobre a PNP debruçou-se sobre as suas dimensões epidemiológicas, especialmente a prevalência e as co-morbilidades (vide infra).
Segundo a última edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV-TR) (2) esta perturbação está presente em menos de 1% na comunidade e 2% a 16% se considerarmos a população psiquiátrica, sendo mais comum no sexo masculino (em 50% a 75% dos casos). No entanto, estudos recentes estimam a prevalência de PNP na população geral entre 0% e 7,7% (3-13). De facto, um estudo recente (13) feito nos EUA, baseado em 3653 entrevistas pessoais estruturadas, que incluíam os critérios de diagnóstico do DSM-IV, documentou uma prevalência da PNP maior do que a antecipada. Segundo este estudo, a taxa de prevalência ao longo da vida para esta perturbação é de 6,2% (7,7% para os homens e 4,8% no caso das mulheres). Estas taxas são superiores em adultos jovens e para aqueles que se encontram separados, divorciados, viúvos ou solteiros. Foram ainda referidas diferenças culturais significativas: homens de raça negra e mulheres de raça negra ou hispânica, apresentam maiores taxas de prevalência quando comparadas com homens de raça hispânica e caucasianos dos dois sexos.
Um outro estudo epidemiológico (14) sustenta estes dados e sugere que a prevalência de PNP tem vindo a aumentar ao longo dos anos, encontrando uma correlação positiva e estatisticamente significativa entre o narcisismo (avaliado pelo Narcissistic Personality Inventory) e o avançar das gerações. De resto, estes estudos vêm complementar dados de publicações anteriores, que mostravam um aumento em traços de individualismo como a assertividade (15), a auto-estima (16), a extroversão (17), a liderança (18) e padrões de grandiosidade (16), que sabemos estar positivamente correlacionados com o narcisismo (19).
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Características Clínicas e Critérios de Diagnóstico
Para que se estabeleça o diagnóstico de PP é necessário que o indivíduo apresente traços de personalidade inflexíveis e desadaptados, causando incapacidade funcional significativa ou sofrimento subjectivo. De acordo com os critérios do DSM-IV-TR, a característica essencial da perturbação da personalidade é um padrão estável de experiência interna e comportamento desadaptado, isto é, que se desvia marcadamente do esperado para o indivíduo numa dada cultura. Exprime-se em, pelo menos, duas das seguintes áreas: cognição, afectividade, funcionamento inter-pessoal ou controlo dos impulsos (critério A). Este padrão estável é inflexível e global persistindo numa gama variada de situações sociais e pessoais (critério B), originando sofrimento clinicamente significativo ou incapacidade social, profissional, ou noutras áreas importantes de funcionamento (Critério C). Tem de ser estável, de longa duração e com começo na adolescência ou inicio da idade adulta (critério D). O quadro sintomatológico não é melhor explicado como manifestação ou consequência de outra perturbação mental (critério E) e não é devido aos efeitos fisiológicos directos de uma substância ou a um estado físico geral (critério F) (2).
Embora, por definição, uma perturbação da personalidade exija uma idade de início até ao princípio da vida adulta as pessoas podem não solicitar ajuda clínica até relativamente tarde. Muitas vezes as características que a definem não são sequer consideradas problemáticas pela pessoa. Por outro lado, esta pode ser exacerbada na sequência da perda de pessoas significativas para o indivíduo ou de situações sociais estáveis (2).
No caso específico do diagnóstico da PNP, os indivíduos com esta patologia têm um sentimento grandioso da sua importância (19-20) (critério 1). Hipervalorizam por rotina as suas capacidades (21-22), exageram nas suas realizações (22-23) e o seu sentimento de grandiosidade fá-los parecer pretensiosos. Assumem com naturalidade que os outros atribuem o mesmo valor aos seus esforços e podem ser surpreendidos quando o reconhecimento que esperam e julgam merecer não se concretiza. Com frequência está implícito nas apreciações das suas realizações uma desvalorização das contribuições dos
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outros (24), por exemplo daqueles que os desapontam (20). São pessoas preocupadas com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amores ideais (25) (critério 2), podendo apresentar pensamentos ruminantes sobre a admiração e privilégio “merecidos” e tendendo a comparar-se favoravelmente com pessoas cuja fama é de todos conhecida. Acreditam piamente que são superiores (22), especiais ou únicos e esperam que os outros os reconheçam como tal (21) (critério 3). Sentem que só podem ser compreendidas ou se devem associar, com pessoas especiais ou de elevado estatuto, a pessoas “únicas”, “perfeitas”, “dotadas” (26). As pessoas com esta perturbação acreditam que as suas necessidades são também especiais e estão para além do alcance dos comuns. Promovem o relacionamento com pessoas de elevado estatuto social ou económico de forma a conseguirem um determinado estatuto por associação (sendo o exemplo clássico o do(a) marido/mulher “troféu”) (19, 26), ou com pessoas habitualmente associadas a esse estilo de vida (os “melhores cabeleireiros”, o personal trainer). Pelo mesmo motivo, procuram também tornar-se membros das “melhores” instituições ou de associações ou clubes de acesso restrito. Os indivíduos com esta perturbação requerem em geral uma admiração excessiva (26-27) (critério 4). Outra característica das pessoas com PNP é o facto de terem tendência para reconstruir as experiências que viveram no passado para que se tornem mais lisonjeiras para si próprias (22). Todas estas necessidades escondem no fundo uma auto-estima invariavelmente frágil. Preocupam-se com o quão bem se estão a sair e quão favoravelmente estão cotados pelos outros. Esperam sempre ser recebidos com grande pompa e circunstância, ficando espantados se os outros não invejam aquilo que eles possuem. Procuram constantemente o elogio, muitas vezes seduzindo. Tão importantes se vêem, que há neles um sentimento de direito a reverências, de um tratamento particular e favorável (22, 27-28) (critério 5). Esperam ser servidos e ficam confusos e furiosos quando isto não acontece. Por exemplo, assumem que não têm que esperar numa fila e que as suas prioridades são tão importantes que os outros deveriam ceder, ficando irritados quando alguém não reconhece o “seu importantíssimo trabalho”. Este sentido de reverência, combinado com a ausência de sensibilidade face aos desejos e necessidades dos outros,
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pode resultar no querer tirar partido deles, com ou sem intenção (2) (critério 6). Esperam com frequência que lhes seja dado o que pretendem ou que sentem necessitar, não se importando com o que isso possa significar para os outros. Por exemplo, esperam enorme dedicação das pessoas e podem sobrecarregá-las com trabalho, não se importando com o facto de isso poder vir alterar as necessidades dos outros. Tendem a iniciar amizades ou relações amorosas somente se a outra pessoa estiver disposta a aceitar as suas intenções ou cultivar a sua auto-estima. Poderiam ser ainda citadas outras características como, por exemplo, a falta de empatia e a dificuldade em reconhecer os desejos, experiências subjectivas e sentimentos dos outros (27) (critério 7). Podem assumir que estes estão totalmente preocupados com o seu bem-estar. Tendem a discutir os seus problemas com um pormenor extenso e inapropriado, enquanto falham no reconhecimento das necessidades e sentimentos dos outros. Frequentemente desprezam e ficam até impacientes quando alguém pretende desabafar preocupações ou problemas, não reparando que magoam com as suas observações. Por exemplo, podem dizer com exuberância a uma pessoa com quem se relacionaram anteriormente “tenho agora a relação da minha vida” ou exibir saúde a alguém que se encontra doente. Quando reconhecem as necessidades, desejos ou sentimentos dos outros avaliam-nos como sinais de fraqueza ou vulnerabilidade, e por isso são consideradas pessoas emocionalmente frias e com ausência de interesse recíproco. São frequentemente invejosos ou imaginam que os outros têm inveja deles (27) (critério 8). Invejam o sucesso e posses dos outros, podendo desvalorizar intensamente as contribuições destes, particularmente quando essas pessoas receberam elogios ou benesses pelas suas realizações. São também características a arrogância, altivez, snobismo, desdém ou atitudes de complacência. Por exemplo, podem queixar-se da “incompetência” de um empregado desajeitado ou concluir uma avaliação clínica com uma apreciação nada favorável em relação ao médico (29) (critério 9).
Por outro lado, a sua vulnerável auto-estima torna-as muito sensíveis à “ofensa”, à crítica e à derrota (29). Apesar de não o demonstrarem exteriormente, a crítica pode obcecar estas pessoas e deixá-las humilhadas, rebaixadas, ocas e vazias. Mas também podem reagir com
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desdém, raiva, agressividade ou com ímpeto provocador (22). Estas experiências conduzem habitualmente ao evitamento social ou a uma aparente humildade que mascara ou protege a sua excessiva grandiosidade (2). As relações interpessoais vêem-se assim empobrecidas pelos problemas resultantes da necessidade de reverência, admiração e desrespeito pela sensibilidade dos outros. Apesar da confiança e ambições presunçosas poderem dar origem a elevadas realizações, o rendimento pode ser interrompido pela intolerância à crítica e à derrota. Algumas vezes, o funcionamento vocacional pode ser muito baixo, reflectindo pouca vontade de aceitar riscos na competição ou noutras circunstâncias em que a derrota é possível (2).
O quão rapidamente esta perturbação da personalidade causa disfunção nas relações inter-pessoais ainda se encontra em debate. Há alguma evidência de que os problemas de relacionamento associados com a PNP apenas se desenvolvem ao longo do tempo, sendo esta perturbação associada a um funcionamento inter-pessoal aparentemente positivo durante as fases iniciais de relacionamento (30-31). Estas características, associadas ao facto de tipicamente possuírem muitas competências a nível social, como confiança (27), extroversão (30) ou capacidade de entretenimento (31), parecem estar na origem da grande tendência de ascensão a líderes que se verifica nestes indivíduos. De acordo com um estudo recente (32) as pessoas com PNP têm efectivamente uma maior tendência para assumir papéis de liderança. Por outro lado, de acordo com o mesmo estudo, estes indivíduos não trazem necessariamente benefícios nesse papel. Segundo os autores, pelo contrário, a ocupação de lugares de liderança por estas pessoas acarreta uma data de consequências negativas quer para eles próprios, quer para as organizações a que pertencem (comportamento contraproducente, má relação com os pares, baixa performance contextual, tomada de decisões arriscadas e má utilização dos recursos). Assim, embora a PNP possa levar à ascensão do indivíduo como líder, isso não significa necessariamente que vá ter uma boa performance.
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Para além do já referido, também se tem relacionado a PNP com potenciais perturbações de adição, como o alcoolismo, o jogo patológico, compras compulsivas e mesmo “crimes de colarinho branco” (32).
Em resumo, a PNP, vista da perspectiva do doente, trata-se da aquisição e manutenção da auto-estima, poder e estatuto, associada à pouca preocupação com o bem-estar dos outros; isto é frequentemente conseguido através de um uso eficaz das relações sociais. Visto de fora, contudo, os narcisistas (pelo menos a curto prazo) vão parecer frequentemente sociáveis, confiantes, simpáticos e até sedutores. Os problemas de relacionamento inter-pessoal apenas surgem com o tempo (32).
Um consenso acerca dos critérios de diagnóstico da PNP está longe de ser alcançado. Muitos clínicos têm referido dificuldades no estabelecimento do diagnóstico já que indivíduos com diferentes perturbações da personalidade partilham frequentemente experiências e apresentações comuns. De facto, na preparação do DSM-V, está a ser debatida a questão da incorporação de um modelo dimensional à actual classificação em categorias das perturbações da personalidade, com a esperança de que isso vá de encontro aos desafios diagnósticos que estas patologias apresentam (33). Para corroborar estes factos, basta ter em conta que a perturbação da personalidade mais vezes diagnosticada parece ser a do tipo “não especificada”. Tem também sido sugerida, em vários estudos realizados, a existência de diferentes subtipos desta PP. Segundo alguns autores (34-37), há uma importante distinção entre dois tipos de PNP: o encoberto, ou vulnerável, e o manifesto, ou grandioso. Pensa-se que estes subtipos de PNP diferem entre si no que diz respeito à auto-estima, às emoções negativas e extroversão, sendo o encoberto caracterizado por introversão, propensão para sentimentos negativos (como a vergonha), condicionando o seu afastamento dos outros e o manifesto por um padrão de extroversão, com tendência para negar ou, de certa forma, bloquear experiências negativas através da raiva, que expressa agredindo os outros. Por sua vez, Russ et al (33), comprovam a existência dos referidos subtipos e sugerem a existência de um terceiro subtipo da PNP: o narcisismo exibicionista/altamente funcionante. Neste subtipo, empiricamente pouco estudado, os
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indivíduos têm igualmente um padrão de grandiosidade, são competitivos, procuram atenção, são sedutores ou provocadores a nível sexual, mas têm, ao mesmo tempo, características psicológicas positivas como uma maior coerência, energia, melhores relações interpessoais ou uma forte orientação para objectivos, usando o seu narcisismo como uma alavanca para o sucesso, o que os torna mais adaptados e com melhores capacidades de funcionamento que os restantes. Assim, para os mesmos autores, estes doentes apresentam também um menor número de co-morbilidades. Finalmente, um estudo levado a cabo no mesmo ano por Miller et al (38) sugere a não existência de quaisquer subtipos da PNP, embora admita a existência de variantes que poderão merecer atenção, ou até inclusão, numa futura edição do DSM. Seria importante uma maior investigação na tentativa de se estabelecer um consenso acerca desta matéria, que poderá ser benéfico essencialmente na abordagem e tratamento destes doentes.
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Etiopatogenia
Apesar do interesse de longa data no que diz respeito à etiopatogenia da PNP, as teorias existentes actualmente não são, ainda, mais do que conjecturas, assentes em ténues fundamentos empíricos. Essas noções devem ser consideradas como questões que precisam de uma maior avaliação empírica e não tomadas como factos confirmados. Contudo, há evidências de que os factores causais desta perturbação, tal como acontece noutras PPs, sejam multidimensionais. Assim, a PNP resultará da interacção entre determinadas características do temperamento (biogénicas, que funcionarão como predisponentes) e experiências de socialização desajustadas (activadoras dessa predisposição) do indivíduo (22).
Para a presente discussão, é muito importante caracterizar os sistemas motivacionais responsáveis pelos comportamentos e emoções verificadas nos indivíduos e que parecem estar relacionados com circuitos neuronais localizados em estruturas do sistema límbico, como a amígdala e o hipotálamo cf. Thomaes et al (22). Deste modo, sabe-se que há sistemas responsáveis por induzir comportamentos e gerar emoções positivas e outros que inibem comportamentos e geram emoções negativas. Estão, respectivamente, na base do temperamento de aproximação e do temperamento de evitamento cf. Thomaes et al (22). Os indivíduos com um marcado temperamento de aproximação são altamente sensíveis a estímulos positivos, comportam-se em função deles e reagem fortemente à sua presença ou ausência. Por sua vez, aqueles caracterizados por um temperamento de evitamento são muito sensíveis a estímulos negativos, tendem a evitá-los e reagem fortemente à sua presença cf. Thomaes et al (22). Esta diferenciação é relevante na medida em que se pensa que as pessoas com PNP têm um temperamento de aproximação marcado, apresentando muitos comportamentos e características a ele associados (como a agressividade, a impulsividade, a tendência para correr riscos, a extroversão, a competitividade e a necessidade de concretização), uma forte orientação para a realização de objectivos pessoais e para a validação da sua grandiosidade (pela procura de aprovação dos outros e
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consequente retirada na sua ausência) e sendo sensíveis à recompensa. Relativamente ao temperamento de evitamento, pensa-se que será, no geral, menos preponderante entre as pessoas com PNP, mas que haverá a esse respeito marcadas diferenças individuais e que essas diferenças determinarão a manifestação dos subtipos manifesto e encoberto da PNP, sendo a primeira caracterizada por um predomínio do temperamento de aproximação e a segunda pela presença quer do temperamento de aproximação como do temperamento de evitamento cf. Thomaes et al (22). Em resumo, o desenvolvimento da PNP num indivíduo parece ser influenciado pela presença de uma sensibilidade precoce para estímulos positivos, por vezes acompanhada por uma sensibilidade semelhante para estímulos negativos (22). Ainda a este propósito, há que referir um estudo muito interessante (39), que avaliou a dimensão das perturbações da personalidade em gémeos e encontrou efeitos de dominância genética para problemas de intimidade, labilidade efectiva e, especialmente, narcisismo, contribuindo para a compreensão da importância dos factores biogénicos na formação da personalidade.
Relativamente às influências do ambiente, é unânime que, na origem da PNP, está uma interacção disfuncional precoce entre esses indivíduos e a sua família. No entanto, há duas teorias quanto à natureza dessa disfunção. Assim, segundo alguns autores, haverá uma hipervalorização e permissividade por parte dos pais capazes de incutir traços narcisistas nas crianças. Como exemplo temos: os elogios incondicionais e excessivos; a falta de críticas; a associação constante entre os esforços e concretizações das crianças e o seu valor enquanto indivíduos; a tendência para os colocar num pedestal e lhes dizer que são especiais, louváveis e melhores que os outros; a falta de restrições e regras. De acordo com esta teoria, as crianças desenvolvem assim uma auto-imagem de grandiosidade, a convicção de que são merecedoras de tratamento privilegiado e tornam-se dependentes de uma contínua validação externa cf. Thomaes et al (22) e Otway et al (40). Outros autores acham que para o despoletar da PNP poderão contribuir a frieza, a indiferença, a desvalorização, expectativas demasiado elevadas, o autoritarismo e a falta de empatia e de apoio por parte dos pais. Por vezes, são retratados casos de pais psicologicamente
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controladores e que usam frequentemente comportamentos manipulativos como privação de afecto ou indução de sentimentos de culpa para conseguirem exercer a sua influência. Neste caso, as crianças criam uma auto-imagem de superioridade, narcisista, como meio de se protegerem da rejeição e da desvalorização e também se pensa que necessitem de atenção positiva dos outros de forma a compensar a falta de afecto por parte dos pais cf. Thomaes et al (22) e Otway et al (40). Os dados empíricos existentes parecem suportar ambas as teorias, o que significa que diferentes experiências de socialização podem conduzir ao desenvolvimento de um mesmo resultado (22).
É necessária a realização de muita investigação nesta área, nomeadamente de estudos focados na interacção entre os genes e o ambiente em indivíduos com PNP, tal como os existentes, por exemplo, para a perturbação anti-social.
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Co-morbilidades
As co-morbilidades, uma consideração importante na prática clínica, têm sido descritas em diversos estudos na forma de co-ocorrências significativas de abuso de substâncias, depressão endógena, doença bipolar tipo I, perturbações da ansiedade e outras perturbações da personalidade (13). Em qualquer dos casos, a capacidade de funcionamento geral dos doentes com PNP é frequentemente marginal quando comparado com a restante sociedade (comparável em muitos casos com os níveis observados em doentes com patologia crónica tal como a esquizofrenia) (41). Para além do referido, a PNP também causa grande sofrimento nas pessoas que se relacionam com o doente (41).
O custo desta perturbação para a sociedade pode ser substancial e vários estudos sugerem que as perturbações da personalidade em geral são uma causa de despesa, morbilidade e mortalidade subavaliadas. As perturbações da personalidade estão associadas a incapacidade, necessidade aumentada de cuidados médicos, tentativas de suicídio, comportamentos auto-destrutivos, agressão, atraso na recuperação de perturbações mentais do eixo I e doenças médicas, internamentos, desemprego, desagregação familiar, abuso e negligência de crianças, delinquência, pobreza, DSTs, subdiagnóstico e má adesão terapêutica em doenças médicas e psiquiátricas, problemas judiciais recidivantes e dependência social. Pensa-se que o custo social total que esta patologia representa é desproporcional à quantidade de atenção que lhe é dedicada quer a nível de consciência pública quer governamental, na educação médica ou mesmo na formação psiquiátrica. Não menos importante do que lidar com os custos sociais destas perturbações é o valor potencial inerente aos programas preventivos com o objectivo de aumentar a polivalência e elasticidade da personalidade dos indivíduos, melhorando as suas capacidades adaptativas (41).
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Diagnósticos Diferenciais
Outras perturbações da personalidade podem ser confundidas com a PNP por partilharem características comuns. É, por isso, importante distinguir estas perturbações com base nas diferenças das suas características típicas. Contudo, se uma pessoa apresentar características de personalidade que preencham critérios para uma ou mais Perturbações da Personalidade, para além da PNP, todas podem ser diagnosticadas.
A característica mais importante na discriminação da PNP das Perturbações Histriónicas, Anti-Social, e Borderline da Personalidade, cujos estilos interactivos são, respectivamente, sedutor, insensível e dependente, é a grandiosidade característica da PNP. A relativa estabilidade da auto-imagem, com melhor capacidade de adaptação social e laboral, uma maior tolerância relativamente à ansiedade, um maior controlo da impulsividade, assim como a ausência relativa de auto-destrutividade e de preocupações de abandono, distinguem a Perturbação Narcísica da Perturbação Borderline da Personalidade, cf. Akhtar et al (42). O orgulho arrogante nas suas realizações, a relativa ausência de manifestação emocional e a exploração dos outros, sem qualquer preocupação pela sua sensibilidade, ajudam a distinguir a Perturbação Narcísica da Perturbação Histriónica da Personalidade, cf. Akhtar et al (42). Em comum, as pessoas com Perturbação Borderline, Histriónica e Narcísica da Personalidade, têm o facto de necessitarem de atenção, especificamente do tipo admiração (2). Os indivíduos com Perturbação Anti-Social e Narcísica da Personalidade partilham a tendência para serem volúveis, superficiais, exploradores e não empáticos (2). Contudo, a PNP não inclui o desrespeito consistente e calculado pelas regras e padrões sociais, e os comportamentos marginais (abuso de substâncias, promiscuidade, manipulação e comportamento anti-social), quando presentes, são esporádicos, cf. Akhtar et al (42). Além disso, as pessoas com Perturbação Anti-Social da Personalidade não necessitam tanto da admiração e inveja dos outros (2) e as pessoas com PNP são capazes de ter sucesso laboral consistente, cf. Akhtar et al (42).
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Tanto na Perturbação Narcísica como na Perturbação Obsessivo-Compulsiva da Personalidade, os indivíduos partilham a tendência para o perfeccionismo e acreditam que os outros não fazem as coisas tão bem. No entanto, há diferenças significativas entre as duas, cf. Akhtar et al (42): em contraste com a autocrítica sistemática e a procura da perfeição das pessoas com Perturbação Obsessivo-Compulsiva da Personalidade, as pessoas com PNP acreditam que atingiram essa perfeição e reclamam-na; as primeiras são modestas e não desvalorizam os outros, enquanto as segundas são arrogantes e desprezam os feitos alheios; as primeiras têm um padrão moral rígido, em contraste com as segundas cujo sistema de valores é corrompível.
Por sua vez, a desconfiança e o evitamento social habitualmente distinguem as pessoas com Perturbação Esquizotípica ou Paranóide da Personalidade daqueles com PNP. Quando estas qualidades estão presentes nas pessoas com PNP, são consequência primariamente do medo de verem reveladas falhas e imperfeições suas (2).
Finalmente, a grandiosidade pode emergir nos Episódios Maníacos ou Hipomaníacos mas a associação com alteração do humor, a história familiar positiva de doença bipolar (42) ou o défice funcional ajudam a distinguir estes episódios da PNP (2).
A PNP deve, também, ser distinguida dos sintomas que se podem desenvolver em associação com o uso crónico de substâncias (por exemplo, Perturbação associada à cocaína sem outra especificação) (2).
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Tratamento
Os doentes com PNP representam um grande desafio no que se refere ao tratamento. Usam os seus esquemas disfuncionais para tentar influenciar o terapeuta, colocando-o em situações desconfortáveis: muitos vêem-no como “inimigo” atacando-o furiosamente ou humilhando-o, noutros casos desprezam-no, por vezes desafiam-no, etc. Têm também um baixo insight, tendo dificuldade em reconhecer os seus problemas psicológicos, em perceber a causa das suas emoções e em reflectir sobre os seus próprios pensamentos e crenças, o que dificulta a criação de um diálogo fértil com o médico. Por outro lado, o tratamento destas pessoas comporta inevitavelmente sérios problemas de contra-transferência, por causa do seu desapego emocional e comportamento exigente e depreciativo face aos outros. Tudo isto dificulta o estabelecimento de uma boa relação médico-doente. Este problema é ainda maior se tivermos em conta que a terapia, neste caso, pode demorar vários anos. Deste modo, de forma a conseguir ser bem sucedido no tratamento da PNP, o terapeuta tem de ser experiente e fazer uso de todas as suas capacidades pessoais e técnicas, controlar as suas reacções e conter os seus próprios traços narcisistas, bem como manter uma atitude neutra e empática (1).
Na abordagem destes doentes utilizam-se dois principais tipos de psicoterapia, sendo a farmacoterapia também útil no tratamento de algumas co-morbilidades.
A psicoterapia deve, então, associar uma componente psicodinâmica a uma componente cognitiva. A primeira, considerada o tratamento mais eficaz da PNP, com resultados bastante satisfatórios, aborda o doente como alguém que vai repetir, nas suas acções e comportamentos com o terapeuta, aspectos inconscientes da sua personalidade, que não podem ser lembrados ou verbalizados. O terapeuta deve observar estes padrões inconscientes e mecanismos de defesa e utilizá-los para tentar perceber a forma como o indivíduo actua fora do ambiente terapêutico. Quando estes mecanismos surgem de forma suficientemente clara e previsível e há suficientes exemplos da sua existência, o terapeuta deve tentar, então, aperceber-se do modo como funcionam. O modelo psicodinâmico pode
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ser complementado, conforme já foi dito, pelo modelo cognitivo. Este visa ajudar o paciente a avaliar e modificar as suas crenças negativas rígidas e gerais acerca dele próprio, dos outros e dos seus mundos e desenvolver mecanismos de adaptação mais realistas (41).
Sintomas específicos como a raiva e a depressão parecem responder a anti-depressivos, tais como os inibidores da MAO e os inibidores selectivos da recaptação da serotonina, enquanto a instabilidade responde à terapia com anti-convulsivantes, tal como a carbamazepina, ou ao lítio (41).
Os dados existentes indicam que a combinação da psicoterapia e da medicação pode ser eficaz no tratamento da PNP. Estes métodos devem ser sempre considerados intervenções complementares e nunca alternativas (41).
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Conclusão
O campo da PNP está lentamente a transformar-se de um estadio de “especulação geral” e observações clínicas para análises mais empíricas de questões básicas como o conceito, os critérios, a etiopatogenia, a classificação, o tratamento e os seus resultados. Isto assume ainda uma maior importância se tivermos em conta que esta patologia, com implicações negativas para o indivíduo a longo prazo, para as pessoas com quem se relaciona e para a sociedade, através dos custos que acarreta, tem vindo a aumentar a sua prevalência.
Novos paradigmas de tratamento têm originado terapias mais dirigidas a problemas específicos desta perturbação, tal como a falta de auto-estima, as dificuldades na relação interpessoal, os mecanismos de defesa desenvolvidos e a agressividade, procurando melhorar os mecanismos de adaptação do doente. Apesar das dificuldades em tratar estes doentes, estudos recentes têm revelado que a sua eficácia é satisfatória na maioria dos casos, constituindo um importante estímulo.
O desafio para o futuro é o desenvolvimento de um sistema de classificação mais dinâmico e com maior utilidade clínica. É necessária uma maior pesquisa para encontrar modelos alternativos ou dar uma nova dimensão ao existente sistema categórico. Estudos longitudinais são também necessários para um melhor entendimento da interacção entre os genes e o ambiente. Deste modo, poderemos compreender melhor a sua etiopatogenia, o que conduzirá a uma actuação mais eficaz tanto ao nível da prevenção, como da abordagem e tratamento dos indivíduos com esta perturbação (pelo desenvolvimento de guidelines mais adequadas). Tudo isto será de grande importância na minimização do impacto negativo da PNP em todas as suas vertentes.
22
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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Referências Bibliográficas

Amores que nos fazem mal (Patrícia Delahaie)
Mentes Inquietas ( Ana Beatriz Barbosa e Silva)
Amores de Alto Risco ( Walter Riso)
O Sucesso é ser Feliz ( Roberto Shinyashiki)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Critérios para o diagnóstico:

Critérios Diagnósticos para F60.8 - 301.81 Transtorno da Personalidade Narcisista:

Um padrão invasivo de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), necessidade de admiração e falta de empatia, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por pelo menos cinco dos seguintes critérios:

(1) sentimento grandioso da própria importância (por ex., exagera realizações e talentos, espera ser reconhecido como superior sem realizações comensuráveis)
(2) preocupação com fantasias de ilimitado sucesso, poder, inteligência, beleza ou amor ideal
(3) crença de ser "especial" e único e de que somente pode ser compreendido ou deve associar-se a outras pessoas (ou instituições) especiais ou de condição elevada
(4) exigência de admiração excessiva
(5) sentimento de intitulação, ou seja, possui expectativas irracionais de receber um tratamento especialmente favorável ou obediência automática às suas expectativas
(6) é explorador em relacionamentos interpessoais, isto é, tira vantagem de outros para atingir seus próprios objetivos
(7) ausência de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e necessidades alheias
(8) freqüentemente sente inveja de outras pessoas ou acredita ser alvo da inveja alheia
(9) comportamentos e atitudes arrogantes e insolentes

Pesquisa no DSM - IV - Dra.Elaine Marini

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Links sobre o assunto:

 http://semiologiamedica.blogspot.com.br/2010/06/transtorno-de-personalidade-narcisista.html


http://www.planetanews.com/news/2004/10257

http://vitimasdepsicopatasenarcisistas.blogspot.com/2009/08/eles-raramente-sao-macantes-no-inicio.html

http://www.psicologiapravoce.com.br/textopsi.asp?nr=666

http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0191.pdf

http://irresistivel.com.br/e-possivel-namorar-um-narcisista/


http://sementesdevitoria.blogspot.com.br/2009/09/sarando-o-narcisismo.html

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Carta para um narcisista 2





    Ao longo desse quase cinco anos em que moramos juntos, fui escrevendo muitas cartas, a maioria não guardei, mas deveria ter guardado, pois hoje elas me dariam força, e me fariam crer, ainda mais, em tudo o que aconteceu. Todas mostravam como eu me sentia, nunca impondo mudanças na sua personalidade, mas sempre te dando a chance de rever seu comportamento com relação a mim, ao que me magoava.
      Nesse tempo todo convivi com dois homens, um maravilhoso, afetuoso, amoroso, inteligente, compreensivo e outro perverso que me humilhava e destruía. Você gerou expectativas e dúvidas que sacudiram as bases da minha autoconfiança, brincando com meus sentimentos, ficando ora próximo e ora distante. Passei noites e noites em claro examinando a situação de todos os ângulos, muitas vezes me culpando.
Quem será esse homem? Tentei de todas as maneiras desvendá-lo. Fiquei ligada a você pelo amor e pela angústia. Apeguei-me nesse amor tentando compreende-lo. Mas como compreender o que escapa à lógica?
       Estou exausta, escrevi um e-mail. Você leu e está me tratando como uma princesa (sim,você sabe ser maravilhoso quando quer) Por que agora? Agora que o encanto acabou que me sinto coisificada, que cheguei ao fundo do poço? Agora que me sinto impotente? Agora que cansei de tentar ser a mulher perfeita para você? Agora que cansei de fazer o possível e o impossível para você ser feliz comigo, ao meu lado?
        Tive muitas esperanças com suas promessas...
    De um dia me surpreender, de me fazer feliz, e em cada promessa me permiti sonhar, e quanto mais alto sonhei mais dolorido foi o tombo. A cada cartinha uma mudança temporária. E cada vez que abaixei a guarda e mostrei todo meu amor, você se fez indiferente e mostrou para mim o quanto podia me jogar fora. Você me deixou em suspenso ,“à disposição”, para que pudesse ser usada, deixada de lado, reutilizada e novamente descartada ao sabor dos seus humores inconstantes de quem brinca com nervos e sentimentos.
        Queria que o meu amor tivesse sido uma força sobre a qual você tivesse apoio para seguir sua vida. Contudo, só consegui sua revolta por pensar que queria que perdesse sua individualidade. Deu tudo errado. As “minhas falhas” formaram abismos entre nós. Você se colocou numa altura na qual me sinto inadequada e nada vai mudar isso. Sinto-me impotente e derrotada.
         Não posso mais perder minha saúde e energia, nem mais acreditar em mudanças. As mudanças só são validas quando são feitas para manter o amor, jamais para recuperar o que já se perdeu. Eu me perdi de mim mesma. Tenho muitos medos. Medo de manifestar minhas vontades, de sentir vontade de fazer sexo na hora “errada”, medo de não responder corretamente as suas perguntas, medo de respondê-las e ser criticada.                       Tenho medo de ser inconveniente. Medo de me distrair e errar. Medo de não corresponder às suas expectativas. Eu tenho que estar sempre me policiando para ser perfeita para “você”.
Você já impôs a condição de eu ser melhor para ficar aqui. Eu tentei, mas descobri que estava deixando de ser eu mesma, por que eu não estava tentando ser melhor para mim e sim melhor para você.
Quem ama de verdade não tem dificuldades em fazer pequenas concessões. Você nunca quis fazê-las por mim. Eu nunca quis mudar seu lado “seguro com dinheiro”, isso nunca me incomodou, mas esse seu lado de quem não quer de jeito nenhum perder um pouco da individualidade para fazer outra pessoa feliz, para mim, é de quem não está preparado para viver a dois. Eu sou distraída e isso é da minha personalidade, eu não vou mudar.
          Pode doer ouvir isso, você só me amará de verdade depois que eu partir, quando a amor se tornar impossível...penso que vai sofrer...mas...


Esse e-mail foi escrito também há uns quatro anos atrás, quando estava com a intensão de sair de casa. Acabei voltando por insistência dele, que foi me buscar e me fez mil promessas. Resolvi dar outra chance pois já tinha investido tanto nessa relação...Também penso que esse sofrimento vai ser um tanto diferente...

Carta para um narcisista 1

    
   Não vou julgar você ser do jeito que é. O comportamento humano é muito complexo, mais complexo ainda é a convivência entre eles, mas não sei se está valendo à pena perder minhas noites de sono me sentindo frustrada por não ser a mulher capa de revista, nem a adolescente que povoa suas fantasias, nem a gostosa com quem você cruza na rua e não resiste em olhar mesmo estando comigo,eu percebo. Também não sou àquela que passa um dia sem cometer erros para que no final receba alguma recompensa, como amor, carinho e sexo. Sou comum, de carne e osso, nada especial. Erro o caminho por que não tenho senso de direção, falo bobagem por que não penso muito...nem rápido, tranco a chave dentro do carro por que sou desligada, fuço seu e-mail por que sou insegura por não ser mais novidade, fico feia de toca de banho, meu corpo também já não é mais o mesmo, sou desequilibrada por ter excesso de desejo e pago mico por colocar fantasias para despertar o seu, milhões de eteceteras. Já fiz tudo que estava ao meu alcance para ser a mulher perfeita para você. Cozinhei, limpei, me perfumei e me vesti, malhei, mudei cabelo, hidratei a pele, compreendi todas as suas limitações e relevei tudo que pude, ri das suas piadas, ri até do jeito com que me ridiculariza, mas não consegui e não vou conseguir nunca.; não quero ser perfeita. Agora tenho um sentimento de tristeza e vazio muito grande que preciso superar. Estava ansiosa te esperando para namorar no domingo, depois de tanto tempo, mas você tem a sua razão, cometi, aos seus olhos, faltas graves. 
     Para você não importa se eu estava feliz com meus filhos, não importa se eu não atendi o celular por que estava tomando banho para te esperar, não importa se pensei q você  ia comer, como da última vez, com seus filhos na estrada, importante é me castigar por eu ser comum, afinal vamos viver para sempre e temos o tempo todo do mundo para ser feliz! O manual do barbeador era prioridade.
  Depois de sofrer num 1º casamento, foram 16 anos, achei que tinha maturidade suficiente para fazer tudo certo dessa vez, achei que tinha todo amor do mundo para dar para alguém e todo direito de ser feliz por inteiro. Achei que tinha q acertar a qualquer preço, só que isso está me custando muito caro. Eu choro quase todos os dias, eu tenho insônia. Eu não preciso provar para mim, nem para essa sociedade dessa cidadezinha que enfrentei para viver esse grande amor, que sou competente como mulher. Não sou para você, pronto!  Você se comporta como se eu fosse um iô-iô, joga longe e depois puxa a cordinha com um tranco e o brinquedo volta para sua mão. A cordinha arrebentou. Você não quer me ver, você não quer me entender. Eu sou muito secundária na sua vida.   Você planeja sua vida e eu fico com o tempo de sobra. Você fica na Internet o máximo de tempo que dá, e no tempo que "programa" para ficar comigo é o tempo que decide que vai tomar banho, que vai fazer suas necessidades...Quantas vezes falei o horário que ia chegar e é nesse horário que você ainda estava tomando banho. Nenhuma vez saiu mais cedo da Internet para poder ficar comigo logo que eu chegasse.   Eu não quero que mude seu temperamento, mas eu tenho o meu, e uma coisa é certa, não tem a mesma vontade de ficar comigo como tenho de ficar com você, suas prioridades são outras. Tudo bem! É seu direto, mas isso sempre me fez mal, e eu não posso ficar insistindo em me fazer mal. Tenho minhas necessidades que tenho que suprir e não você. Olho para você e percebo que meus sentimentos mudaram ou estão bem escondidos dentro das minhas mágoas. Não tenho força, me sinto impotente para correr e mudar essa situação. A única coisa que sei é que preciso me resgatar.

Nessa altura eu não sabia nada sobre TDAH ou Narcisismo...passava horas tentando entender...Onde estava errando? Isso foi há uns quatro anos.

Eros e Psiqué (Fernando Pessoa)

Eros e Psique

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa

Outro transtorno associado...



Transtorno de Personalidade Passivo-Agressivo

Esse demonstra ainda mais a montanha russa que vivi...

    Conviver com alguém assim é estar vinculado a um sabotador do amor. O amor é ambivalente, desconcertante, conflituoso, nem tão perto, nem tão longe. Um amor confuso onde ora se é querida, ora não. De quem não sabe o que fazer com o outro, onde não há forma de satisfação. Tira do sério e depois castiga por isso. Pouco confiável, pede perdão depois faz tudo de novo. Um vai e vem com agressão encoberta. Uma tortura emocional. Precisa de você mas te rechaça. Um conspirador da relação e ao mesmo tempo incapaz de renunciar a ela. Transforma o amor em frustração e irritação crescentes.
    A estrutura mental do passivo-agressivo confunde a conduta normal de defender os direitos, ou dizer não, com a imposição e o autoritarismo. Possuem mais que um míssil psicológico apontado para sua cabeça. A resistência passiva, a indolência, a lentidão, as agressões encobertas, a falta de cooperação e a postergação crônica, aparecerão como anúncios luminosos aparecerão se você apertar a tecla adequada.

Narcista no pedestal

    
  Será mesmo que o narcisista desce do pedestal, ou será que essa descida é só aparência, conveniência? Um modo de controlar as coisas até que elas se acalmem? Sei que se eu baixar a “guarda”, aos poucos a personalidade renasce, a cada pequeno gesto, às vezes tão sutil, que só um coração traumatizado pode perceber.

    Lí muito e hoje sei que não sou a única. E que exitem estudos, e que a neurociência  explica, assim como a psiquiatria, a religião, doutrinas, etc...  Os transtornos existem. Não fui eu que inventei, mas como entrei e como saio dessa meia vida? Meia vida, é isso que eu quero para mim? Viver na corda bamba, numa luta eterna para não cair? Será que todo sofrimento me fez mais forte, imune? Certo que não.

    Existe um meio termo entre essas duas estratégias? Não é simples, podemos ainda ficar por muito tempo numa espécie de limbo afetivo, sem saber mesmo o que fazer.
Ter um parceiro narcisista implica num esforço para manter o “eu” na superfície e não se deixar afundar pela arrogância do outro. Alguns otimistas assumem o papel de “reeducadores emocionais”, tentando descentrar o narcisista e reacomodando o ego dele. Os especialistas não são tão otimistas assim.

    Reeducadora emocional,  me sinto assim, fazendo algumas coisas para que ele sinta na pele, nem que seja um décimo do que eu senti. Aproveitando cada oportunidade para mostrar como as pessoas que amam deveriam se comportar, mesmo tendo meu amor por ele se transformado em algo quase que materno. Contudo começo a perceber que terei que lutar até o fim da minha vida, se continuar com essa pessoa, para manter minha identidade.
    Quando nos separamos depois de cinco anos, foi somente por uma semana, nossa conversa foi muito difícil. Chorei como nunca havia chorado, a dor era tanta e tão forte. Pela primeira vez ele me acolheu e acreditou nas minhas lágrimas, pela primeira vez pareceu entender minha dor, pela primeira vez ele parecia me enxergar e ter consciência do estrago que causara.      Desde então vivo uma meia vida, fico testando sua “mudança”, que tem horas parece ser tão superficial e tem horas tão profunda. Continuo numa montanha russa...agora um tanto mais tranqüila...porém ainda me seguro firme no carrinho que me conduz, na dúvida se devo descer ou não, esperando que a qualquer momento esse carrinho se acelere e apareça um desses abismos seguidos de um loopyng...
     Por uns tempos pensei ter aprendido a lição, pensei ter afogado dentro de mim esse medo, pensei ter aprendido a lidar com a situação, ter minha vida, meus sentimentos sobre controle.  Porém quando baixo um pouquinho a guarda , logo ele soube um degrau e eu volto a sentir o mesmo medo, como se revivesse tudo de novo.

Quanto mais amar um narcisista, mais alimentará seu sentimento de grandiosidade, e mais ele se afastará de você.

           
A proposta amorosa do narcisista gira em torno de três premissas:

1)      Menosprezo afetivo: “As minhas necessidades são mais importantes que a sua”.
2)      Grandiosidade/Superioridade: “Que sorte você tem de estar comigo”.
3)      Hipersensibilidade a crítica: “Se você me critica, você não me ama”.

Devo reconhecer que colaborei com tudo isso, creio que não tenho parâmetros sobre até onde pode chegar minha falta de amor próprio. Sempre relevei sua falta de consideração com minhas necessidades. Acreditei mesmo na sorte de ter encontrado uma pessoa especial. No dia a dia fui aceitando que as coisas dele tinham que ser melhores que as minhas. E tomando cuidado com críticas, mesmo as construtivas, tinham que ser feitas com muito tato, muito cuidado para não parecerem críticas, uma tarefa quase impossível.

Três esquemas negativos que nos tornam vulneráveis a estabelecer relacionamentos com pessoas narcisistas:

1)      Autorrejeição: “ Preciso de uma relação que me dê status”. Pessoas que não se sentiram desejadas pelo sexo oposto e criaram uma necessidade dirigida à compensação do tempo perdido.
2)      Indeterminação do “eu”: Preciso de alguém para me identificar”. Pessoas que precisam encontrar fora, na excelência alheia, o que não acha no próprio interior para compensar um vazio pessoal.
3)      Entrega ilimitada: “Preciso dar amor desesperadamente”. Pessoas extremamente afetivas e generosas, com um esquema ilimitado de entrega. Quando uma pessoa assim encontra um narcisista, se produz uma simbiose tão extraordinária quanto mortal. O narcisista é um receptor insaciável e um péssimo doador de qualquer expressão amorosa.  No sonho do doador compulsivo a fantasia é alcançada, porém nessa cumplicidade tácita e marcada pela patologia, a entrega se torna destrutiva.

A terceira opção é o meu caso. Sou muito afetiva, choro em “desenho animado”, me apego fácil as pessoas. Gosto de cuidar, mimar, acarinhar...Tô sempre pegando meus filhos para beijar. Meu primeiro marido foi sempre uma pessoa fria comigo, não só em dar carinho, mas também em receber. Achei que tivesse encontrado a pessoa ideal. Parecia um gato recebendo carinho, gostava imensamente e eu ficava tão feliz, que nem percebia que não havia troca, só doação.

Duas estratégias de sobrevivência afetiva, com consequências complicadas de se lidar:

1)      Adorar o parceiro sobre todas as coisas:  Reconhecer a supremacia do outro e prestar lhe homenagens. Adotar posição de subordinação para não entrar em choque com a grandiosidade do parceiro. Mostrar admiração constante. Não competir com o parceiro. Pegar carona nas conquistas do parceiro. Apontar falhas com muita diplomacia. Adular. Deixar se manipular fingindo-se de “tonto”. Criar resistência a indiferença do parceiro. “ Fortalecer o ego dele.
2)      Colocar o narcisista em seu lugar e fazê-lo descer de seu pedestal: Tentar equilibrar a relação, dividir e compartilhar o poder. Confrontar o ponto mais vulnerável do narcisista, o ego. Baixar a necessidade ególatra com a autorização do narcisista. Não ter mais atitudes de reverência e submissão. Comportar-se como achamos conveniente. Expressar sentimentos com honestidade. Reconhecer a intenção de quem tenta ter o controle, qual o verdadeiro propósito por trás de alguma atitude e não entrar no jogo.

 Creio ter feito as duas coisas. A princípio, por amar demais e não entender o que estava acontecendo, muitas vezes me culpando e me sentindo inferior, tive mesmo uma atitude de subordinação. Foi meio que instintivo, uma questão de “vida ou morte”. 

DOIS EM UM: Dr Jekyll and Mr Hyde


 Como na ficção “ Dr Jekyll and Mr Hyde ele é dois, um meigo que me trata como pétala de flor e outro cruel que me trata como espinho. 

Síntese da Definição do Narcisista:
Indivíduos que se julgam grandiosos, com necessidade de admiração e que desprezam os outros, acreditando serem especiais e explorando os outros em suas relações sociais, tornando-se arrogantes. Gostam de falar de si mesmos, ressaltando sempre suas qualidades e por vezes contando vantagens de situações. Não se importam com o sofrimento que causam nas outras pessoas e muitas vezes precisam rebaixar e humilhar os outros para que se sintam melhor.


   Quando se tem como parceiro um narcisista você se sente um satélite afetivo. Tudo é planejado de acordo com a vida e as preferências do outro. Elas se sentem especiais demais, raros demais, vaidosos demais, inteligentes demais. Tudo acima da média comparado aos simples mortais. Um ser apaixonado por ele mesmo. O egoísmo nessa personalidade encontra a expressão máxima e desmedida. A desproporção do “eu” e da auto-estima.

       Sempre me senti assim, um satélite em órbita de um astro rei. Sei que até fortaleci essa grandiosidade e colaborei, como estratégia de sobrevivência, instinto de auto-preservação, sei lá. Sempre fiz o que ele queria, mesmo quando ele me dava a oportunidade de escolher, minha escolha tinha que se assertiva, pois se falhasse, alguma culpa me era jogada. Com o tempo, passei a recusar fazer escolhas, deixava com que ele decidisse coisas básicas, como o filme que veríamos o lugar para alguma viagem, etc. Geralmente as escolhas dele, eram bem estudadas, e dava tudo certo. Ele se vangloriava disso e eu aplaudia.

          Você vai sentir a atitude de superioridade o tempo todo, com uma infinidade de “faces”. Pode se manifestar, por exemplo, num único olhar de reprovação por não ter se comportado ”à altura dele”.

        Quando ele era diretor de uma empresa e eu tinha minhas crises “infundadas”, ele dizia que um homem na posição dele precisava de uma mulher à altura, forte...

        Contudo na maioria dos casos esse sentimento de grandiosidade é só uma forma de mascarar esquemas de inferioridade. Sua auto-estima na verdade é muito frágil. Eles se preocupam com o modo de como estão se saindo, ou se estão bem vestidos, ou no quanto são considerados pelos outros. Essa necessidade de admiração e atenção é constante, qualquer manifestação contrária a isso gera perplexidade por parte deles. Daí a necessidade de se caçar elogios.

      Quando eu falava, eu te amo, ele vinha sempre com a pergunta, por quê? E eu desfiava o leque das suas qualidades. Via a satisfação estampada na sua cara. Fazendo uma análise de tudo, vejo o quanto ele se empenhava em ser engraçado, a mostrar conhecimento, mas não de uma maneira natural, não para me ver feliz, mas sim para receber elogios. Não é pela minha felicidade que ele se fazia passar pelo homem ideal, mas para reforçar seu super ego.



TDAH x Narcisista : Páreo duro ou a mesma pessoa??





No cérebro do TDAH falta um neurotransmissor, esse cérebro precisa de estímulosu constantes e rápidos. Um cérebro sem filtro.

 A impulsividade, principalmente na fala, faz com que o TDAH fale o que vem na cabeça. “Perdem o amigo, mas não perdem a piada”. Uma pessoa assim pode provocar sua irritação para que sua reação alimente o seu cérebro TDAH. A melhor coisa é não reagir às provocações, pois se reagimos eles ficam indignados com nossa “enorme falta de senso de humor”. 


No trânsito gostam de velocidade e desafios. Muitas emoções. Não gostam de monotonia. Aconselharia um parceiro de TDAH a anotar os ocorridos para depois ler, com o tempo chegamos a duvidar da realidade dos fatos, tudo escapa à lógica.

     Baixa tolerância a frustração. Quer muito uma coisa, mas se começa a dar trabalho desiste. Outra característica com nuances narcisistas.

     Esse cérebro não filtra informações, assimila tudo, e tudo usa a seu favor. Isso facilita o lado narcisista, pois o vasto conhecimento em todas as áreas ajuda nas conquistas, o que acaba por torná-lo uma pessoa a princípio sedutora, mas com o tempo, arrogante.
Qualquer bobagem que falo num nível de conhecimento intelectual é motivo para ele rir.  Sou constantemente questionada quanto a conhecimentos gerais. Qualquer oportunidade que ele encontra me faz perguntas que ele já sabe a resposta e debocha quando erro.

     O TDAH tem alteração ou instabilidade de atenção, esse é o sintoma sem o qual não existe o transtorno.  Atenção só em coisas que gostam muito, chamado de hiperfoco. Podem ficar horas na Internet ( velocidade de informação), ou em outra atividade que gostem. Outro fator que pode ser visto como narcisismo, pois enquanto está nessa hiperfocado em algo se esquece totalmente dos interesses do parceiro.

A desorganização um fator considerável. As tarefas simples do cotidiano são extremamente extenuantes para o TDAH, mais uma vez penso no lado narcisista. O narcisista se acha especial demais para executar sub-tarefas.

      Nos relacionamentos são “pura emoção”, idealizam a pessoa amada, porém após a fase da paixão, a instabilidade de atenção, a desorganização, a busca por estímulos fortes podem trazer conflitos. Imagina conviver com uma pessoa que não presta atenção a nada que você fala, a ponto de alguma idéia sua depois de um tempo, ser proposta como idéia dela própria. Sobre o ponto de vista narcisista, eu diria que esse ideal de “princesa” amada, esconde uma vocação para esperar a parceira à sua altura. Certamente com o passar do tempo, o estímulo inicial, a novidade da relação passa, e de princesa passamos a ser plebéia.  

      Passei tanto tempo querendo ser a princesa perfeita para ele,  à altura dele, a mulher“capa de revista”, não medindo esforços para isso, que quando fiz com que ele descesse do pedestal passei a agir de forma inversa, testando a capacidade dele de me amar mesmo sendo uma mulher comum, e acima de tudo, um protesto por tudo que passei. Os espartilhos viram pijamas, rosto sem maquiagem, e a malhação um bom pedaço de pizza, tudo proposital, feito um grito de liberdade à escravidão por tentar ser supermulher.  Quero ser imperfeita! Feito um teste, pois havia um exagero da minha parte, para ver se ele passava! Parecia um jogo entre “gato e rato”, onde não se sabe quem é quem...

     O TDAH tem profundo amor a vida, querem vivê-la intensamente, buscando na maior parte do tempo fortes emoções, aventuras, amores...
Tanto a impulsividade quanto a hiperatividade podem vir num plano físico ou mental, ou as duas coisas juntas.
Hiperatividade mental , costuma fazer várias coisas ao mesmo tempo, tem várias idéias mas não leva até o fim, por que se enjoa no meio do caminho. Pode se envolver em situação de risco, como correr em alta velocidade. Monopoliza a conversa sem se dar conta do impacto do que está falando.




Manter uma identidade não fragmentada é sinal de saúde mental. O cuidado com o “eu”.





Falando sobre os transtornos...

         O TDAH por si só já é um transtorno de difícil convivência, já que a vida em comum é uma verdadeira montanha russa emocional, somado a outro transtorno, o Transtorno  da Personalidade Narcisista, exige um grau infinito de imunidade psicológica, coisa muito difícil, diria que impossível sem ajuda profissional.  Vou mais além, conviver com uma pessoa assim é um desastre, sem exageros, de caráter catastrófico no psicológico, por que ninguém imagina precisar ter imunidade emocional para conviver com um ser humano que diz te amar,  e quando percebe o estrago já foi feito.  Aí fica a pergunta sem resposta. Até que ponto minha sanidade foi abalada? Lógico que, quando descobrimos, passamos a devorar tudo sobre o assunto, buscando respostas, e tentando “voltar o filme” para entender coisas que depois parecem tão evidentes, que estavam lá, mas estávamos cegos, pois só víamos o que o TDAH queria que víssemos.  Quero deixar bem claro, que o TDAH, a que me refiro sempre nesse texto, é o mais severo grau do transtorno e com comorbidade de Transtorno de Personalidade. Os TDAH de grau leve são criaturas lindas e criativas e se pode divertir com suas peculiaridades, assim como não é tão complicado conviver com alguém com um traço leve de narcisismo.
     Quando se lê somente sobre o TDAH já se lê muito sobre o próprio narcisismo, só que de maneira um pouco mais leve, um narcisismo como conseqüência de alguns comportamentos. Comorbidade é um distúrbio associado e está presente em 50% dos diagnósticos e em maior porcentagem em homens.         Encontrei o TDAH com diversos transtornos de personalidade, como boderline, paranóide, compulsivo-obsessivo, depressivo, porém nada sobre narcisismo (vide CID-10), creio que por que o TDAH já tem traços bem narcisistas o que acaba confundindo. Lendo sobre a personalidade narcisista conclui que há uma diferença num nível de intensidade e consciência. O mesmo acontece com o passivo-agressivo.
Quando se fala em TDAH todo mundo logo pensa na criança hiperativa que enlouquece pais e professores, ou na menina distraidinha que tira notas baixas na escola, mas o transtorno vai muito mais além. Na verdade o que se tem são graus de TDAH, diferentes tendências (distração, impulsividade, hiperatividade) e possíveis comorbidades ( transtornos de personalidade), tornando difícil um diagnóstico, pois são muitas as somas e combinações. O diagnóstico vai depender muito do profissional procurado. Em minha opinião eles não estão aptos a fazê-lo. O “paciente” preenche um questionário e obtendo um número determinado de resposta positivas é qualificado. Não entendo, pois é um distúrbio com características tão sutis, que só mesmo uma pessoa de estreita convivência com o “paciente” pode responder determinadas questões, que vão muito mais além do proposto. No meu caso se eu não tivesse entrado na consulta, o psiquiatra teria desqualificado meu “parceiro”, já que a classe tem certos cuidados, principalmente hoje em dia, quando esse transtorno se tornou uma doença da moda, e o medicamento controlado utilizado para outros fins. Também não houve a preocupação em se descobrir as tendências e nem se existe outro distúrbio associado. Ele prescreveu o remédio, e pronto!

O que está acontecendo???

   
   No começo, a pergunta, o que está acontecendo? Não há respostas, há o desespero de um grito sem voz como num pesadelo. Hoje, ter uma voz interna para gritar, já é muito valioso.  Sou telespectadora de mim mesma, pois olho como se tivesse do lado de fora.  Não sei o que me paralisa, se a ânsia de continuar a desvendar esse mundo TDAH (ele se trata como tal), como obcecada que me tornei, ou, se como vítima, faço parte de um esquema bem engenhoso de manipulação mesmo que inconsciente, ou ainda, se creio que preciso continuar sendo a presença transformadora na vida dessa pessoa, ou ainda pior, se me acostumei a ser um mero ratinho de laboratório, desses que por algum motivo espera recompensa. Tantas coisas me passam pela cabeça...
    Com o tempo achamos que estamos imunes, mas é pouco provável. O que acontece é um sequestro emocional, como um sequestro verdadeiro, só que não é nosso corpo que sofre, é a nossa alma.. Os autores ora escrevem sobre vampiros emocionais, ora sobre perversos-narcisistas, ora sugadores de energia, ora sobre TDAH, as literaturas se confundiram e se mesclaram na minha cabeça.
    As relações durante a vida causam profundas transformações na nossa personalidade, verdadeiras metamorfoses. Quando me entreguei a esse segundo casamento foi um mergulho de cabeça, tentando resgatar todo um histórico de uma vida insatisfatória. Uma infância complicada com pai que se entregou ao álcool e morreu jovem, uma mãe com personalidade paranóide, um primeiro casamento precoce e fracassado com uma pessoa que me tratava como um objeto na estante. Mergulhei no desconhecido. Até ter compreensão do que estava acontecendo vivi momentos tão estressantes quanto inacreditáveis, a sensação era de que poderia acordar a qualquer instante de um sonho ruim. Perdi completamente minha auto-estima e minha identidade. Levaram cinco anos de convivência sob o mesmo teto para que eu “acordasse”, e agora é como se ainda ficasse na cama com preguiça de levantar e seguir com o resto do dia. Vivo meia vida, porém não tenho como zerar o cronometro do relacionamento com essa pessoa, não tenho com mergulhar de cabeça, não tenho como não estar bipartida, não tenho como sair sem deixar parte de mim. Essa parte que se quebrou em mil pedaços, e que agora estão espalhados e tento recolher. Embora a pessoa em questão esteja em tratamento, e ela se “policie” no comportamento, isso nem sempre acontece, pois o remédio tem efeito somente por 8 horas, então qualquer atitude que me lembre a situação vivida me causa um tremendo estresse, como um revivência. Pior que essas atitudes estão se repetindo.
    Esse despertar só aconteceu porque senti que estava ficando doente. Tinha insônia , taquicardia, angustia profunda. A exigência para manter esse amor complicado era tanta que esgotou toda minha energia física e mental, eu parecia um zumbi. Passava as noites em claro tentando compreender, procurava meus erros. Estava no fundo do poço, com auto-estima abalada. Saí de casa e ele me convenceu a voltar. Foi uma conversa bem dolorosa, cheia de promessas e onde reconheceu todos os seus erros e admitiu que não era superior a mim. Dalí para frente, como num passe de mágica consertou “tudo”. Tudo o que fazia errado, sabia exatamente como fazer o certo, em todas as minúcias e sutilezas, do nosso tão complexo relacionamento. Houve mudanças, sim, mas eu também mudei. Jamais voltarei ser a mesma, a mesma mulher, a mesma entrega, o mesmo desejo, a mesma paixão. Eu avisei que não era a mesma, mas mesmo assim ele quis voltar. Quem sou eu hoje? O que eu quero? O que eu sinto? Por que me submeti a isso tudo? Pedaços, pedaços, pedaços e mais pedaços.