terça-feira, 22 de novembro de 2011

Carta para um narcisista 2





    Ao longo desse quase cinco anos em que moramos juntos, fui escrevendo muitas cartas, a maioria não guardei, mas deveria ter guardado, pois hoje elas me dariam força, e me fariam crer, ainda mais, em tudo o que aconteceu. Todas mostravam como eu me sentia, nunca impondo mudanças na sua personalidade, mas sempre te dando a chance de rever seu comportamento com relação a mim, ao que me magoava.
      Nesse tempo todo convivi com dois homens, um maravilhoso, afetuoso, amoroso, inteligente, compreensivo e outro perverso que me humilhava e destruía. Você gerou expectativas e dúvidas que sacudiram as bases da minha autoconfiança, brincando com meus sentimentos, ficando ora próximo e ora distante. Passei noites e noites em claro examinando a situação de todos os ângulos, muitas vezes me culpando.
Quem será esse homem? Tentei de todas as maneiras desvendá-lo. Fiquei ligada a você pelo amor e pela angústia. Apeguei-me nesse amor tentando compreende-lo. Mas como compreender o que escapa à lógica?
       Estou exausta, escrevi um e-mail. Você leu e está me tratando como uma princesa (sim,você sabe ser maravilhoso quando quer) Por que agora? Agora que o encanto acabou que me sinto coisificada, que cheguei ao fundo do poço? Agora que me sinto impotente? Agora que cansei de tentar ser a mulher perfeita para você? Agora que cansei de fazer o possível e o impossível para você ser feliz comigo, ao meu lado?
        Tive muitas esperanças com suas promessas...
    De um dia me surpreender, de me fazer feliz, e em cada promessa me permiti sonhar, e quanto mais alto sonhei mais dolorido foi o tombo. A cada cartinha uma mudança temporária. E cada vez que abaixei a guarda e mostrei todo meu amor, você se fez indiferente e mostrou para mim o quanto podia me jogar fora. Você me deixou em suspenso ,“à disposição”, para que pudesse ser usada, deixada de lado, reutilizada e novamente descartada ao sabor dos seus humores inconstantes de quem brinca com nervos e sentimentos.
        Queria que o meu amor tivesse sido uma força sobre a qual você tivesse apoio para seguir sua vida. Contudo, só consegui sua revolta por pensar que queria que perdesse sua individualidade. Deu tudo errado. As “minhas falhas” formaram abismos entre nós. Você se colocou numa altura na qual me sinto inadequada e nada vai mudar isso. Sinto-me impotente e derrotada.
         Não posso mais perder minha saúde e energia, nem mais acreditar em mudanças. As mudanças só são validas quando são feitas para manter o amor, jamais para recuperar o que já se perdeu. Eu me perdi de mim mesma. Tenho muitos medos. Medo de manifestar minhas vontades, de sentir vontade de fazer sexo na hora “errada”, medo de não responder corretamente as suas perguntas, medo de respondê-las e ser criticada.                       Tenho medo de ser inconveniente. Medo de me distrair e errar. Medo de não corresponder às suas expectativas. Eu tenho que estar sempre me policiando para ser perfeita para “você”.
Você já impôs a condição de eu ser melhor para ficar aqui. Eu tentei, mas descobri que estava deixando de ser eu mesma, por que eu não estava tentando ser melhor para mim e sim melhor para você.
Quem ama de verdade não tem dificuldades em fazer pequenas concessões. Você nunca quis fazê-las por mim. Eu nunca quis mudar seu lado “seguro com dinheiro”, isso nunca me incomodou, mas esse seu lado de quem não quer de jeito nenhum perder um pouco da individualidade para fazer outra pessoa feliz, para mim, é de quem não está preparado para viver a dois. Eu sou distraída e isso é da minha personalidade, eu não vou mudar.
          Pode doer ouvir isso, você só me amará de verdade depois que eu partir, quando a amor se tornar impossível...penso que vai sofrer...mas...


Esse e-mail foi escrito também há uns quatro anos atrás, quando estava com a intensão de sair de casa. Acabei voltando por insistência dele, que foi me buscar e me fez mil promessas. Resolvi dar outra chance pois já tinha investido tanto nessa relação...Também penso que esse sofrimento vai ser um tanto diferente...

Carta para um narcisista 1

    
   Não vou julgar você ser do jeito que é. O comportamento humano é muito complexo, mais complexo ainda é a convivência entre eles, mas não sei se está valendo à pena perder minhas noites de sono me sentindo frustrada por não ser a mulher capa de revista, nem a adolescente que povoa suas fantasias, nem a gostosa com quem você cruza na rua e não resiste em olhar mesmo estando comigo,eu percebo. Também não sou àquela que passa um dia sem cometer erros para que no final receba alguma recompensa, como amor, carinho e sexo. Sou comum, de carne e osso, nada especial. Erro o caminho por que não tenho senso de direção, falo bobagem por que não penso muito...nem rápido, tranco a chave dentro do carro por que sou desligada, fuço seu e-mail por que sou insegura por não ser mais novidade, fico feia de toca de banho, meu corpo também já não é mais o mesmo, sou desequilibrada por ter excesso de desejo e pago mico por colocar fantasias para despertar o seu, milhões de eteceteras. Já fiz tudo que estava ao meu alcance para ser a mulher perfeita para você. Cozinhei, limpei, me perfumei e me vesti, malhei, mudei cabelo, hidratei a pele, compreendi todas as suas limitações e relevei tudo que pude, ri das suas piadas, ri até do jeito com que me ridiculariza, mas não consegui e não vou conseguir nunca.; não quero ser perfeita. Agora tenho um sentimento de tristeza e vazio muito grande que preciso superar. Estava ansiosa te esperando para namorar no domingo, depois de tanto tempo, mas você tem a sua razão, cometi, aos seus olhos, faltas graves. 
     Para você não importa se eu estava feliz com meus filhos, não importa se eu não atendi o celular por que estava tomando banho para te esperar, não importa se pensei q você  ia comer, como da última vez, com seus filhos na estrada, importante é me castigar por eu ser comum, afinal vamos viver para sempre e temos o tempo todo do mundo para ser feliz! O manual do barbeador era prioridade.
  Depois de sofrer num 1º casamento, foram 16 anos, achei que tinha maturidade suficiente para fazer tudo certo dessa vez, achei que tinha todo amor do mundo para dar para alguém e todo direito de ser feliz por inteiro. Achei que tinha q acertar a qualquer preço, só que isso está me custando muito caro. Eu choro quase todos os dias, eu tenho insônia. Eu não preciso provar para mim, nem para essa sociedade dessa cidadezinha que enfrentei para viver esse grande amor, que sou competente como mulher. Não sou para você, pronto!  Você se comporta como se eu fosse um iô-iô, joga longe e depois puxa a cordinha com um tranco e o brinquedo volta para sua mão. A cordinha arrebentou. Você não quer me ver, você não quer me entender. Eu sou muito secundária na sua vida.   Você planeja sua vida e eu fico com o tempo de sobra. Você fica na Internet o máximo de tempo que dá, e no tempo que "programa" para ficar comigo é o tempo que decide que vai tomar banho, que vai fazer suas necessidades...Quantas vezes falei o horário que ia chegar e é nesse horário que você ainda estava tomando banho. Nenhuma vez saiu mais cedo da Internet para poder ficar comigo logo que eu chegasse.   Eu não quero que mude seu temperamento, mas eu tenho o meu, e uma coisa é certa, não tem a mesma vontade de ficar comigo como tenho de ficar com você, suas prioridades são outras. Tudo bem! É seu direto, mas isso sempre me fez mal, e eu não posso ficar insistindo em me fazer mal. Tenho minhas necessidades que tenho que suprir e não você. Olho para você e percebo que meus sentimentos mudaram ou estão bem escondidos dentro das minhas mágoas. Não tenho força, me sinto impotente para correr e mudar essa situação. A única coisa que sei é que preciso me resgatar.

Nessa altura eu não sabia nada sobre TDAH ou Narcisismo...passava horas tentando entender...Onde estava errando? Isso foi há uns quatro anos.

Eros e Psiqué (Fernando Pessoa)

Eros e Psique

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa

Outro transtorno associado...



Transtorno de Personalidade Passivo-Agressivo

Esse demonstra ainda mais a montanha russa que vivi...

    Conviver com alguém assim é estar vinculado a um sabotador do amor. O amor é ambivalente, desconcertante, conflituoso, nem tão perto, nem tão longe. Um amor confuso onde ora se é querida, ora não. De quem não sabe o que fazer com o outro, onde não há forma de satisfação. Tira do sério e depois castiga por isso. Pouco confiável, pede perdão depois faz tudo de novo. Um vai e vem com agressão encoberta. Uma tortura emocional. Precisa de você mas te rechaça. Um conspirador da relação e ao mesmo tempo incapaz de renunciar a ela. Transforma o amor em frustração e irritação crescentes.
    A estrutura mental do passivo-agressivo confunde a conduta normal de defender os direitos, ou dizer não, com a imposição e o autoritarismo. Possuem mais que um míssil psicológico apontado para sua cabeça. A resistência passiva, a indolência, a lentidão, as agressões encobertas, a falta de cooperação e a postergação crônica, aparecerão como anúncios luminosos aparecerão se você apertar a tecla adequada.

Narcista no pedestal

    
  Será mesmo que o narcisista desce do pedestal, ou será que essa descida é só aparência, conveniência? Um modo de controlar as coisas até que elas se acalmem? Sei que se eu baixar a “guarda”, aos poucos a personalidade renasce, a cada pequeno gesto, às vezes tão sutil, que só um coração traumatizado pode perceber.

    Lí muito e hoje sei que não sou a única. E que exitem estudos, e que a neurociência  explica, assim como a psiquiatria, a religião, doutrinas, etc...  Os transtornos existem. Não fui eu que inventei, mas como entrei e como saio dessa meia vida? Meia vida, é isso que eu quero para mim? Viver na corda bamba, numa luta eterna para não cair? Será que todo sofrimento me fez mais forte, imune? Certo que não.

    Existe um meio termo entre essas duas estratégias? Não é simples, podemos ainda ficar por muito tempo numa espécie de limbo afetivo, sem saber mesmo o que fazer.
Ter um parceiro narcisista implica num esforço para manter o “eu” na superfície e não se deixar afundar pela arrogância do outro. Alguns otimistas assumem o papel de “reeducadores emocionais”, tentando descentrar o narcisista e reacomodando o ego dele. Os especialistas não são tão otimistas assim.

    Reeducadora emocional,  me sinto assim, fazendo algumas coisas para que ele sinta na pele, nem que seja um décimo do que eu senti. Aproveitando cada oportunidade para mostrar como as pessoas que amam deveriam se comportar, mesmo tendo meu amor por ele se transformado em algo quase que materno. Contudo começo a perceber que terei que lutar até o fim da minha vida, se continuar com essa pessoa, para manter minha identidade.
    Quando nos separamos depois de cinco anos, foi somente por uma semana, nossa conversa foi muito difícil. Chorei como nunca havia chorado, a dor era tanta e tão forte. Pela primeira vez ele me acolheu e acreditou nas minhas lágrimas, pela primeira vez pareceu entender minha dor, pela primeira vez ele parecia me enxergar e ter consciência do estrago que causara.      Desde então vivo uma meia vida, fico testando sua “mudança”, que tem horas parece ser tão superficial e tem horas tão profunda. Continuo numa montanha russa...agora um tanto mais tranqüila...porém ainda me seguro firme no carrinho que me conduz, na dúvida se devo descer ou não, esperando que a qualquer momento esse carrinho se acelere e apareça um desses abismos seguidos de um loopyng...
     Por uns tempos pensei ter aprendido a lição, pensei ter afogado dentro de mim esse medo, pensei ter aprendido a lidar com a situação, ter minha vida, meus sentimentos sobre controle.  Porém quando baixo um pouquinho a guarda , logo ele soube um degrau e eu volto a sentir o mesmo medo, como se revivesse tudo de novo.

Quanto mais amar um narcisista, mais alimentará seu sentimento de grandiosidade, e mais ele se afastará de você.

           
A proposta amorosa do narcisista gira em torno de três premissas:

1)      Menosprezo afetivo: “As minhas necessidades são mais importantes que a sua”.
2)      Grandiosidade/Superioridade: “Que sorte você tem de estar comigo”.
3)      Hipersensibilidade a crítica: “Se você me critica, você não me ama”.

Devo reconhecer que colaborei com tudo isso, creio que não tenho parâmetros sobre até onde pode chegar minha falta de amor próprio. Sempre relevei sua falta de consideração com minhas necessidades. Acreditei mesmo na sorte de ter encontrado uma pessoa especial. No dia a dia fui aceitando que as coisas dele tinham que ser melhores que as minhas. E tomando cuidado com críticas, mesmo as construtivas, tinham que ser feitas com muito tato, muito cuidado para não parecerem críticas, uma tarefa quase impossível.

Três esquemas negativos que nos tornam vulneráveis a estabelecer relacionamentos com pessoas narcisistas:

1)      Autorrejeição: “ Preciso de uma relação que me dê status”. Pessoas que não se sentiram desejadas pelo sexo oposto e criaram uma necessidade dirigida à compensação do tempo perdido.
2)      Indeterminação do “eu”: Preciso de alguém para me identificar”. Pessoas que precisam encontrar fora, na excelência alheia, o que não acha no próprio interior para compensar um vazio pessoal.
3)      Entrega ilimitada: “Preciso dar amor desesperadamente”. Pessoas extremamente afetivas e generosas, com um esquema ilimitado de entrega. Quando uma pessoa assim encontra um narcisista, se produz uma simbiose tão extraordinária quanto mortal. O narcisista é um receptor insaciável e um péssimo doador de qualquer expressão amorosa.  No sonho do doador compulsivo a fantasia é alcançada, porém nessa cumplicidade tácita e marcada pela patologia, a entrega se torna destrutiva.

A terceira opção é o meu caso. Sou muito afetiva, choro em “desenho animado”, me apego fácil as pessoas. Gosto de cuidar, mimar, acarinhar...Tô sempre pegando meus filhos para beijar. Meu primeiro marido foi sempre uma pessoa fria comigo, não só em dar carinho, mas também em receber. Achei que tivesse encontrado a pessoa ideal. Parecia um gato recebendo carinho, gostava imensamente e eu ficava tão feliz, que nem percebia que não havia troca, só doação.

Duas estratégias de sobrevivência afetiva, com consequências complicadas de se lidar:

1)      Adorar o parceiro sobre todas as coisas:  Reconhecer a supremacia do outro e prestar lhe homenagens. Adotar posição de subordinação para não entrar em choque com a grandiosidade do parceiro. Mostrar admiração constante. Não competir com o parceiro. Pegar carona nas conquistas do parceiro. Apontar falhas com muita diplomacia. Adular. Deixar se manipular fingindo-se de “tonto”. Criar resistência a indiferença do parceiro. “ Fortalecer o ego dele.
2)      Colocar o narcisista em seu lugar e fazê-lo descer de seu pedestal: Tentar equilibrar a relação, dividir e compartilhar o poder. Confrontar o ponto mais vulnerável do narcisista, o ego. Baixar a necessidade ególatra com a autorização do narcisista. Não ter mais atitudes de reverência e submissão. Comportar-se como achamos conveniente. Expressar sentimentos com honestidade. Reconhecer a intenção de quem tenta ter o controle, qual o verdadeiro propósito por trás de alguma atitude e não entrar no jogo.

 Creio ter feito as duas coisas. A princípio, por amar demais e não entender o que estava acontecendo, muitas vezes me culpando e me sentindo inferior, tive mesmo uma atitude de subordinação. Foi meio que instintivo, uma questão de “vida ou morte”. 

DOIS EM UM: Dr Jekyll and Mr Hyde


 Como na ficção “ Dr Jekyll and Mr Hyde ele é dois, um meigo que me trata como pétala de flor e outro cruel que me trata como espinho. 

Síntese da Definição do Narcisista:
Indivíduos que se julgam grandiosos, com necessidade de admiração e que desprezam os outros, acreditando serem especiais e explorando os outros em suas relações sociais, tornando-se arrogantes. Gostam de falar de si mesmos, ressaltando sempre suas qualidades e por vezes contando vantagens de situações. Não se importam com o sofrimento que causam nas outras pessoas e muitas vezes precisam rebaixar e humilhar os outros para que se sintam melhor.


   Quando se tem como parceiro um narcisista você se sente um satélite afetivo. Tudo é planejado de acordo com a vida e as preferências do outro. Elas se sentem especiais demais, raros demais, vaidosos demais, inteligentes demais. Tudo acima da média comparado aos simples mortais. Um ser apaixonado por ele mesmo. O egoísmo nessa personalidade encontra a expressão máxima e desmedida. A desproporção do “eu” e da auto-estima.

       Sempre me senti assim, um satélite em órbita de um astro rei. Sei que até fortaleci essa grandiosidade e colaborei, como estratégia de sobrevivência, instinto de auto-preservação, sei lá. Sempre fiz o que ele queria, mesmo quando ele me dava a oportunidade de escolher, minha escolha tinha que se assertiva, pois se falhasse, alguma culpa me era jogada. Com o tempo, passei a recusar fazer escolhas, deixava com que ele decidisse coisas básicas, como o filme que veríamos o lugar para alguma viagem, etc. Geralmente as escolhas dele, eram bem estudadas, e dava tudo certo. Ele se vangloriava disso e eu aplaudia.

          Você vai sentir a atitude de superioridade o tempo todo, com uma infinidade de “faces”. Pode se manifestar, por exemplo, num único olhar de reprovação por não ter se comportado ”à altura dele”.

        Quando ele era diretor de uma empresa e eu tinha minhas crises “infundadas”, ele dizia que um homem na posição dele precisava de uma mulher à altura, forte...

        Contudo na maioria dos casos esse sentimento de grandiosidade é só uma forma de mascarar esquemas de inferioridade. Sua auto-estima na verdade é muito frágil. Eles se preocupam com o modo de como estão se saindo, ou se estão bem vestidos, ou no quanto são considerados pelos outros. Essa necessidade de admiração e atenção é constante, qualquer manifestação contrária a isso gera perplexidade por parte deles. Daí a necessidade de se caçar elogios.

      Quando eu falava, eu te amo, ele vinha sempre com a pergunta, por quê? E eu desfiava o leque das suas qualidades. Via a satisfação estampada na sua cara. Fazendo uma análise de tudo, vejo o quanto ele se empenhava em ser engraçado, a mostrar conhecimento, mas não de uma maneira natural, não para me ver feliz, mas sim para receber elogios. Não é pela minha felicidade que ele se fazia passar pelo homem ideal, mas para reforçar seu super ego.



TDAH x Narcisista : Páreo duro ou a mesma pessoa??





No cérebro do TDAH falta um neurotransmissor, esse cérebro precisa de estímulosu constantes e rápidos. Um cérebro sem filtro.

 A impulsividade, principalmente na fala, faz com que o TDAH fale o que vem na cabeça. “Perdem o amigo, mas não perdem a piada”. Uma pessoa assim pode provocar sua irritação para que sua reação alimente o seu cérebro TDAH. A melhor coisa é não reagir às provocações, pois se reagimos eles ficam indignados com nossa “enorme falta de senso de humor”. 


No trânsito gostam de velocidade e desafios. Muitas emoções. Não gostam de monotonia. Aconselharia um parceiro de TDAH a anotar os ocorridos para depois ler, com o tempo chegamos a duvidar da realidade dos fatos, tudo escapa à lógica.

     Baixa tolerância a frustração. Quer muito uma coisa, mas se começa a dar trabalho desiste. Outra característica com nuances narcisistas.

     Esse cérebro não filtra informações, assimila tudo, e tudo usa a seu favor. Isso facilita o lado narcisista, pois o vasto conhecimento em todas as áreas ajuda nas conquistas, o que acaba por torná-lo uma pessoa a princípio sedutora, mas com o tempo, arrogante.
Qualquer bobagem que falo num nível de conhecimento intelectual é motivo para ele rir.  Sou constantemente questionada quanto a conhecimentos gerais. Qualquer oportunidade que ele encontra me faz perguntas que ele já sabe a resposta e debocha quando erro.

     O TDAH tem alteração ou instabilidade de atenção, esse é o sintoma sem o qual não existe o transtorno.  Atenção só em coisas que gostam muito, chamado de hiperfoco. Podem ficar horas na Internet ( velocidade de informação), ou em outra atividade que gostem. Outro fator que pode ser visto como narcisismo, pois enquanto está nessa hiperfocado em algo se esquece totalmente dos interesses do parceiro.

A desorganização um fator considerável. As tarefas simples do cotidiano são extremamente extenuantes para o TDAH, mais uma vez penso no lado narcisista. O narcisista se acha especial demais para executar sub-tarefas.

      Nos relacionamentos são “pura emoção”, idealizam a pessoa amada, porém após a fase da paixão, a instabilidade de atenção, a desorganização, a busca por estímulos fortes podem trazer conflitos. Imagina conviver com uma pessoa que não presta atenção a nada que você fala, a ponto de alguma idéia sua depois de um tempo, ser proposta como idéia dela própria. Sobre o ponto de vista narcisista, eu diria que esse ideal de “princesa” amada, esconde uma vocação para esperar a parceira à sua altura. Certamente com o passar do tempo, o estímulo inicial, a novidade da relação passa, e de princesa passamos a ser plebéia.  

      Passei tanto tempo querendo ser a princesa perfeita para ele,  à altura dele, a mulher“capa de revista”, não medindo esforços para isso, que quando fiz com que ele descesse do pedestal passei a agir de forma inversa, testando a capacidade dele de me amar mesmo sendo uma mulher comum, e acima de tudo, um protesto por tudo que passei. Os espartilhos viram pijamas, rosto sem maquiagem, e a malhação um bom pedaço de pizza, tudo proposital, feito um grito de liberdade à escravidão por tentar ser supermulher.  Quero ser imperfeita! Feito um teste, pois havia um exagero da minha parte, para ver se ele passava! Parecia um jogo entre “gato e rato”, onde não se sabe quem é quem...

     O TDAH tem profundo amor a vida, querem vivê-la intensamente, buscando na maior parte do tempo fortes emoções, aventuras, amores...
Tanto a impulsividade quanto a hiperatividade podem vir num plano físico ou mental, ou as duas coisas juntas.
Hiperatividade mental , costuma fazer várias coisas ao mesmo tempo, tem várias idéias mas não leva até o fim, por que se enjoa no meio do caminho. Pode se envolver em situação de risco, como correr em alta velocidade. Monopoliza a conversa sem se dar conta do impacto do que está falando.




Manter uma identidade não fragmentada é sinal de saúde mental. O cuidado com o “eu”.





Falando sobre os transtornos...

         O TDAH por si só já é um transtorno de difícil convivência, já que a vida em comum é uma verdadeira montanha russa emocional, somado a outro transtorno, o Transtorno  da Personalidade Narcisista, exige um grau infinito de imunidade psicológica, coisa muito difícil, diria que impossível sem ajuda profissional.  Vou mais além, conviver com uma pessoa assim é um desastre, sem exageros, de caráter catastrófico no psicológico, por que ninguém imagina precisar ter imunidade emocional para conviver com um ser humano que diz te amar,  e quando percebe o estrago já foi feito.  Aí fica a pergunta sem resposta. Até que ponto minha sanidade foi abalada? Lógico que, quando descobrimos, passamos a devorar tudo sobre o assunto, buscando respostas, e tentando “voltar o filme” para entender coisas que depois parecem tão evidentes, que estavam lá, mas estávamos cegos, pois só víamos o que o TDAH queria que víssemos.  Quero deixar bem claro, que o TDAH, a que me refiro sempre nesse texto, é o mais severo grau do transtorno e com comorbidade de Transtorno de Personalidade. Os TDAH de grau leve são criaturas lindas e criativas e se pode divertir com suas peculiaridades, assim como não é tão complicado conviver com alguém com um traço leve de narcisismo.
     Quando se lê somente sobre o TDAH já se lê muito sobre o próprio narcisismo, só que de maneira um pouco mais leve, um narcisismo como conseqüência de alguns comportamentos. Comorbidade é um distúrbio associado e está presente em 50% dos diagnósticos e em maior porcentagem em homens.         Encontrei o TDAH com diversos transtornos de personalidade, como boderline, paranóide, compulsivo-obsessivo, depressivo, porém nada sobre narcisismo (vide CID-10), creio que por que o TDAH já tem traços bem narcisistas o que acaba confundindo. Lendo sobre a personalidade narcisista conclui que há uma diferença num nível de intensidade e consciência. O mesmo acontece com o passivo-agressivo.
Quando se fala em TDAH todo mundo logo pensa na criança hiperativa que enlouquece pais e professores, ou na menina distraidinha que tira notas baixas na escola, mas o transtorno vai muito mais além. Na verdade o que se tem são graus de TDAH, diferentes tendências (distração, impulsividade, hiperatividade) e possíveis comorbidades ( transtornos de personalidade), tornando difícil um diagnóstico, pois são muitas as somas e combinações. O diagnóstico vai depender muito do profissional procurado. Em minha opinião eles não estão aptos a fazê-lo. O “paciente” preenche um questionário e obtendo um número determinado de resposta positivas é qualificado. Não entendo, pois é um distúrbio com características tão sutis, que só mesmo uma pessoa de estreita convivência com o “paciente” pode responder determinadas questões, que vão muito mais além do proposto. No meu caso se eu não tivesse entrado na consulta, o psiquiatra teria desqualificado meu “parceiro”, já que a classe tem certos cuidados, principalmente hoje em dia, quando esse transtorno se tornou uma doença da moda, e o medicamento controlado utilizado para outros fins. Também não houve a preocupação em se descobrir as tendências e nem se existe outro distúrbio associado. Ele prescreveu o remédio, e pronto!

O que está acontecendo???

   
   No começo, a pergunta, o que está acontecendo? Não há respostas, há o desespero de um grito sem voz como num pesadelo. Hoje, ter uma voz interna para gritar, já é muito valioso.  Sou telespectadora de mim mesma, pois olho como se tivesse do lado de fora.  Não sei o que me paralisa, se a ânsia de continuar a desvendar esse mundo TDAH (ele se trata como tal), como obcecada que me tornei, ou, se como vítima, faço parte de um esquema bem engenhoso de manipulação mesmo que inconsciente, ou ainda, se creio que preciso continuar sendo a presença transformadora na vida dessa pessoa, ou ainda pior, se me acostumei a ser um mero ratinho de laboratório, desses que por algum motivo espera recompensa. Tantas coisas me passam pela cabeça...
    Com o tempo achamos que estamos imunes, mas é pouco provável. O que acontece é um sequestro emocional, como um sequestro verdadeiro, só que não é nosso corpo que sofre, é a nossa alma.. Os autores ora escrevem sobre vampiros emocionais, ora sobre perversos-narcisistas, ora sugadores de energia, ora sobre TDAH, as literaturas se confundiram e se mesclaram na minha cabeça.
    As relações durante a vida causam profundas transformações na nossa personalidade, verdadeiras metamorfoses. Quando me entreguei a esse segundo casamento foi um mergulho de cabeça, tentando resgatar todo um histórico de uma vida insatisfatória. Uma infância complicada com pai que se entregou ao álcool e morreu jovem, uma mãe com personalidade paranóide, um primeiro casamento precoce e fracassado com uma pessoa que me tratava como um objeto na estante. Mergulhei no desconhecido. Até ter compreensão do que estava acontecendo vivi momentos tão estressantes quanto inacreditáveis, a sensação era de que poderia acordar a qualquer instante de um sonho ruim. Perdi completamente minha auto-estima e minha identidade. Levaram cinco anos de convivência sob o mesmo teto para que eu “acordasse”, e agora é como se ainda ficasse na cama com preguiça de levantar e seguir com o resto do dia. Vivo meia vida, porém não tenho como zerar o cronometro do relacionamento com essa pessoa, não tenho com mergulhar de cabeça, não tenho como não estar bipartida, não tenho como sair sem deixar parte de mim. Essa parte que se quebrou em mil pedaços, e que agora estão espalhados e tento recolher. Embora a pessoa em questão esteja em tratamento, e ela se “policie” no comportamento, isso nem sempre acontece, pois o remédio tem efeito somente por 8 horas, então qualquer atitude que me lembre a situação vivida me causa um tremendo estresse, como um revivência. Pior que essas atitudes estão se repetindo.
    Esse despertar só aconteceu porque senti que estava ficando doente. Tinha insônia , taquicardia, angustia profunda. A exigência para manter esse amor complicado era tanta que esgotou toda minha energia física e mental, eu parecia um zumbi. Passava as noites em claro tentando compreender, procurava meus erros. Estava no fundo do poço, com auto-estima abalada. Saí de casa e ele me convenceu a voltar. Foi uma conversa bem dolorosa, cheia de promessas e onde reconheceu todos os seus erros e admitiu que não era superior a mim. Dalí para frente, como num passe de mágica consertou “tudo”. Tudo o que fazia errado, sabia exatamente como fazer o certo, em todas as minúcias e sutilezas, do nosso tão complexo relacionamento. Houve mudanças, sim, mas eu também mudei. Jamais voltarei ser a mesma, a mesma mulher, a mesma entrega, o mesmo desejo, a mesma paixão. Eu avisei que não era a mesma, mas mesmo assim ele quis voltar. Quem sou eu hoje? O que eu quero? O que eu sinto? Por que me submeti a isso tudo? Pedaços, pedaços, pedaços e mais pedaços.

Resumo da minha história com Narciso

                   

      Fomos amantes, desses que planejam se separar dos parceiros para ficar juntos, com promessas e juras de amor. Ambos de casamentos visivelmente mal sucedidos. Contudo nunca houve da parte dele uma atitude real, só palavras que soavam como música aos meus ouvidos. Para mim, foi uma dessas paixões em que não se consegue pensar em mais nada, dessas em que se enfrenta qualquer obstáculo. Nos obstáculos incluía ser colocada num porta-malas de carro, para poder entrar na casa dele, mesmo ele estando separado da mulher. Incluía ficar esperando por ele numa rua deserta e perigosa, na madrugada. Incluía ser desovada como um corpo num lugar escuro qualquer. Estava cega pela paixão. Queria muito amar e ser amada. Depois de idas e vindas, as “circunstâncias” me colocaram sob o mesmo teto dele, alias o teto era dele. A pedido dele, eu apareci de “sopetão”, bati na porta e perguntei se podia subir com as minhas malas. Ele aceitou. Nunca me senti tão feliz em toda minha vida, mal acreditava que estava ali vivendo o amor que sonhei. Isso durou uma semana. A partir daí passei a viver com dois homens. Um meigo que parecia me amar e entender meu significado na sua vida e outro perverso que parecia odiar tudo o que eu representava. O perverso se sobressaía, mas incansavelmente, por cinco anos eu busquei o meigo, que estava lá em algum lugar dentro daquela pessoa que eu amava mais do que a mim mesma. O diagnóstico de TDAH veio muito tempo depois, assim como minhas idéias malucas sobre narcismo. Malucas?  Nesse início eu quase fiquei louca, cheguei a perder o emprego, por estar tão absorvida em manter essa relação. Lia artigos na Internet, escrevia para sites de psiquiatria. O engraçado é que tudo era tão complexo, que as respostas dadas por um mesmo médico variavam muito conforme o enfoque que eu dava. Era impossível falar numa única carta, com texto limitado, todas as nuances e sutilezas sobre a espécie violência moral que eu estava sofrendo. Eu mesma abordava o assunto de várias formas pois acreditava, na maioria do tempo,  que erro estava em mim.
    O amante que passou a marido, logo na segunda semana passou a evitar ter relações sexuais comigo, de uma maneira muito evidente. Eu que esperava a mesma chama dos encontros furtivos de amantes, recebi uma frieza glacial. Ele começou a falar que agora eu não era mais “proibida”, que não era mais novidade. Ele dizia isso de uma maneira muito cruel, para me ferir mesmo. Era muito humilhante. Meu desejo por ele passou a ser encarado por ele como uma aberração. Ele me perguntava sobre quando eu entraria na menopausa; falava que sexo dava câncer na próstata, entre outros absurdos. Essa rejeição acabou por despertar mais ainda meu desejo. Eu tentava seduzi-lo com roupas provocantes, mas em todas as situações ele me ridicularizava. Nem se preocupava em dar uma desculpa fundamentada, como “dor de cabeça”. Podia estar ali de espartilho vermelho e salto alto, ofegante, que ele me chamava de desequilibrada. Eu passava a noite chorando e ele parecia gostar de me ver assim, como se meu choro fosse a expressão do meu “louco e incondicional amor por ele”. Por várias vezes ele falou que não era obrigado a fazer sexo comigo e a me mandar buscar “homem” no bar perto de casa, e que se eu não estivesse contente que arrumasse minhas malinhas e fosse embora. Eu, muitas vezes, coloquei minhas roupas na mala e fui para o corredor do prédio ou para banco do automóvel, enquanto ele ficava inabalável dentro de casa. Eu voltava e me recolhia a minha insignificância. Ele debochava.
      Eu limpava o apartamento e passava as roupas no fim de semana, ele pedia e eu cortava as unhas das mãos e dos pés dele. Levava e trazia a comida numa bandeja (ainda faço isso), muitas vezes com coisas que eu mesma comprava. Ficava cozinhando com amor, pratos que ele elogiava. Contudo como num passe de mágica, por mais que eu fosse a criatura mais cuidosa, com os gestos e as palavras, ele se transformava no monstro que se masturbava aos sábados, no banho, só para poder me falar “não”. Ficava horas na Internet, baixando pornografia e fotos de mulheres nuas escancaradamente, exageradamente. O pouco que se sentava ao meu lado ficava inquieto querendo ver como estavam os downloads. Esquecia da vida. Muitas vezes chegava com maior carinho pedindo para ele ficar um pouco comigo, mas a reação era de que eu tivesse pedindo um absurdo.  Com a maior crueldade ele elogiava todas as lindas mulheres da revista, falava da pele perfeita delas, tudo no intuito de me provocar. Passei a querer competir com elas, sem direito a photoshop. Achava que assim ficaria à altura dele. Malhava, me cuidava, tirava fotos minhas, para ele ver que eu também era bonita, mas ele não me via. Comecei a investigar para ver se ele tinha outra, por que a rejeição era tanta, que não tinha uma justificativa lógica. E todas as vezes que ele descobria sobre essa investigação ele me chamava de louca, de que não era uma pessoa confiável, por mais que eu explicasse que minhas atitudes eram geradas pelas dele. Eu sempre esperava por alguma forma de castigo. Crime e castigo. Minha vida se resumia a entender o que estava acontecendo. Vivia apavorada, qualquer coisa que eu fizesse de “errado” era dado um valor maximizado por ele, a ponto de passar dias sem falar comigo. O meu sofrimento era a punição por ele infligida a mim. Sentia a euforia dele ao saber que eu tinha passado mais uma noite em claro. Eu vi muitos amanheceres. Ele falava que eu precisava melhorar, condição “si ni qua non” para eu ficar. Sou muito distraída, sou assim desde que me conheço por “gente”, ele ficava louco com qualquer esquecimento meu. Queria que eu corrigisse isso. Eu tentava explicar que não era culpa minha ser assim, que não tinha controle sobre minhas distrações, ele não entendia isso, achava que eu tinha que me empenhar em consertar isso em mim. Toda vez que eu me distraía com algo era motivo para mais punição. Aí eu piorava mais, pois meus pensamentos sobre os acontecimentos me levavam para longe, e meu olhar ficava perdido e distante, quase catatônico, ao ponto de algumas vezes, em lugares públicos, ele achar que eu estava olhando para outro homem, e me chamar de vagabunda. As brigas nessas ocasiões eram muito pesadas, eu ficava muito indignada por ele não acreditar em mim. Numa dessas vezes, eu havia esquecido o celular ligado, e meus filhos ouviram a briga. Foi bem difícil, depois, convencê-los de que tudo estava bem.
Ele sabia que eu gostava que fôssemos juntos para a cama à noite, e aí sempre dava um jeito de, ir bem depois, ou antes, tudo explicitamente planejado para me provocar. Quando eu pedia um beijo de “boa noite” ele ficava indignado por eu “precisar” de um beijo para dormir. Fazia um discurso sobre isso. Diante da recusa, eu não dormia mesmo, ia para a sala chorar. Ele se levantava e vinha reclamar que meu choro podia acordar os vizinhos.
       Ele fazia questão de me colocar no meu “devido” lugar, se referia a tudo no apartamento como dele...O meu computador...o meu sofá...meu telefone...Eu me sentia como a sem teto que estava ali “de favor”. Também não me sentia a mulher dele, não havia esse comprometimento.
    Quando resolveu ter um “hobbie”, ser motociclista, comprou uma “Harley” e arrumou uma turma para sair. Eram casais na sua maioria, contudo eu fiquei a maior parte do tempo de fora. Falava que queria ir aos passeios, e ele não me  levava, falava que o hobbie era dele, que eu procurasse o meu. Eles realizavam encontros e churrascos, onde eu nunca podia ir. Ele era cruel ao ponto de me falar que ninguém da turma havia perguntado por mim.

   Passei cinco anos reprimindo meus desejos, me policiando para não falar bobagem, sentido muito medo, tristeza e uma angustia sem fim.
   Lógico que teve um lado bom, o homem meigo pelo qual me apaixonei perdidamente um dia, aparecia, me deixando confusa. Esse homem era apaixonado e apaixonante. Um companheiro com o qual sempre sonhei. Aparecia sempre quando eu estava prestes a desmoronar, como se soubesse disso. Falava coisas lindas e me prometia o mundo. Eu não queria o mundo, somente que esse homem ficasse para sempre e que me enxergasse, mas ele ia embora (não fisicamente).

Mente Incrédula



    Tudo o que vou relatar tem como base livros e artigos de Internet que li, somados a minha experiência pessoal.  Espero não me perder no emaranhado de pensamentos que me tornou essa pessoa, meio que, obcecada em desvendar o que se passou e o que se passa. Esse texto é, antes de tudo, algo que escrevo para mim mesma.
    Meu intuito é fazer um balanço da minha própria vida, já que considero ter desvendado o outro, o porquê de mais uma vez ter me submetido a abusos emocionais e ainda estar aqui, absorta na minha própria perplexibilidade. Escrevo, pois ainda sou incrédula. Escrevo também sobre os transtornos para que saibam com o quê convivi. Na maioria do tempo não sabia com o que estava lidando. Buscar respostas era uma questão de sobrevivência. Encontrei vários artigos sobre esses transtornos, e vou falar um pouco do que li sobre eles, porém pouco se lê sobre a vítima.   O que torna certas pessoas alvos tão fáceis? A resposta ainda está dentro de mim como um grito no escuro. Sou uma diferente a cada hora do mesmo dia. Quero ficar, quero sair. A cada coisa que descubro dele ou de mim mesma, eu mudo. Afinal, quem sou eu, se fujo de todas as saídas que encontro desse labirinto?

    O que escrevo são fragmentos que me vem à cabeça. Tento colocar numa ordem, mas é muito difícil. Também é quase impossível descrever as sensações e sentimentos sentidos. 

Texto Da Bíblia

Não sou de fazer citações, mas essa cabe bem...

O amor é paciente,
o amor é prestativo;
não é invejoso, não se ostenta,
não se incha de orgulho

                                      1 Cor. 13,4




O amor narcisista não é paciente,
Não é prestativo...se ostenta e se incha e orgulho.

Agradecimentos



A minha amiga X por ter me ouvido e principalmente por ter me feito acreditar nos absurdos dos eventos. Ao meu amigo Y, de adolescência, por ter ajudado a recuperar minha auto-estima quando me julguei um lixo. Ao meu amigo Z, por me deixar ver inteira novamente através seus olhos, um espelho de mim mesma. Agradeço e peço desculpas, pois de alguma maneira devo ter errado com vocês.